Líderes indígenas da etnia Guarani Kaiowá e Ñadeva pediram, nesta
segunda-feira (29), à Procuradoria-Geral da República (PGR) mais
segurança e urgência no processo de demarcação de suas terras em Mato
Grosso do Sul. Eles se reuniram com a vice-procuradora-geral da
República, Deborah Duprat. Os índios também entregaram um documento
solicitando o apoio do Ministério Público Federal (MPF) para garantir
melhorias no acesso ao Acampamento Pyelito Kue/Mbarakay, área ocupada
pelos indígenas na Fazenda Cambará, em Iguatemi, sul de Mato Grosso do
Sul (MS).
No documento, eles explicam a situação pela qual passam e reafirmam que
“a comunidade decidiu que não vai sair nem por bem e nem por mal”.
“Vamos lutar pela nossa terra até o último guerreiro”, diz. Os índios
relataram ainda a ocorrência de mais um suicídio, no último sábado (26) e
também denunciaram o estupro de uma índia ocorrido na quarta-feira
(24).
Otoniel Guarani Ñadeva, um dos líderes, disse que os índios estão se
sentindo ameaçados e que precisam que o Estado trabalhe para dar mais
segurança aos índios que estão no Acampamento Pyelito Kue/Mbarakay, onde
vivem atualmente 200 índios guarani kaiowás. O acampamento ocupa uma
área de 2 hectares.
Para Otoniel, a demora da Fundação Nacional do Índio (Funai) em divulgar
o relatório definindo se a área reivindicada pelos índios pertence à
etnia, está contribuindo para a situação de violência. “Nós queremos
resolver a questão da demarcação das terras. Queremos que a Funai
divulgue o resultado final sobre a demarcação de terras. Aí, sim,
acabaria a violência que o nosso povo sofre hoje”, disse.
Para Deborah Duprat, que coordena a 6ª Câmara do MPF, que trata de
populações indígenas e comunidades tradicionais, a situação dos guaranis
kaiowás é “um dos vários casos em que a omissão do Estado na demarcação
de terras indígenas gera reações dramáticas como essa”, disse.
Segundo ela, a situação dos guaranis kaiowás é semelhante à vivenciada
na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. “Há uma
reação enorme do setor dito produtivo de Mato Grosso do Sul. Há uma
resistência que chega a ser quase um racismo institucional. O estado
colocando as suas instituições contra os índios”, declarou.
Pra a vice-procuradora, o MPF tem cobrado agilidade da Funai na
divulgação do relatório, mas que a fundação vem estourando todos os
prazos. “A Funai firmou com o MPF, há cerca de três anos, um termo de
ajustamento de conduta se comprometendo com prazos para a identificação
de todas as áreas indígenas em Mato Grosso do Sul. Nada disso foi
cumprido. É preciso que esses processos sejam concluídos”, disse.
No dia 16 de outubro, o MPF em Dourados apresentou recurso no Tribunal
Regional Federal da 3ª Região (TRF 3) para reformar a decisão da Justiça
Federal em Naviraí, que determinou a saída dos índios da fazenda. O MPF
pede a permanência da etnia Guarani Kaiowá na área até que sejam
concluídos os estudos antropológicos aptos a determinar a
tradicionalidade da ocupação. A expectativa é que o recurso seja julgado
até quarta-feira (31).
Mais duas lideranças vão se juntar ao grupo que está em Brasília. Eles
representam 94 mil índios de oito etnias. Nesta terça-feira (30), eles
vão se reunir com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do
Rosário, para tratar das violações de direitos humanos sofridas pelos
índios.
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