Por Graça Campos *
ENFOQUE E PERSPECTIVAS
Na actualidade, a visão da CRIATIVIDADE está sob uma perspectiva integrada e multidisciplinar, pois parece ser o caminho mais recomendável para compreender sua dinâmica. Compreende-se aqui à integração e à multidisciplinaridade, um processo em decorrência da evolução de todas as visões desde os primórdios da tentativa de explicar a criatividade, como também compreende-se a presença do potencial criativo na integralidade dos aspectos básicos da condição humana: pensar, sentir e expressar, isto independentemente de raça, faixa etária, credo..
As novas propostas mais actuais para explicação da concepção dos fenómenos criativos integra tanto aspectos cognitivos, como os afectivos, além de considerar como determinante a influência do ambiente (família, escola, trabalho…) Na última década, pode-se observar uma marcante diferença na atitude dos estudiosos frente à criatividade, sendo esta cada vez mais percebida como algo desejável e necessário para diversos momentos e situações da vida do indivíduo, como por exemplo sua vida educacional, sua vida profissional, e um “viver saudável”. O “ser criativo” passou à ênfase do “viver criativo”, valorizando, portanto, não só as situações que requer solução de problemas e eficácia na escola e no trabalho, como também para se ter uma saúde mental e física satisfatória (Conde, 1995).
O conceito hoje de criatividade pode ser encontrado como sinónimo de saúde mental, sendo apontado que um óptimo funcionamento do indivíduo envolve a sua auto-realização pessoal e um desempenho inovador no campo produtivo, seja profissional, educacional ou social.
Nessa compreensão actual, outro enfoque importante passa a ser dado, à “motivação para criar”. Assim, a criatividade hoje passa a ser compreendida através da dinâmica: afectividade-cognição- acção criativa e motivação para criar.
Elementos ambientais são hoje focados também como determinantes no processo criativo, pois a família e participações sociais (escola, trabalho, clubes, etc) são essenciais na valorização e estimulação da criatividade.
Ao pensarmos sobre a importância do ambiente no desenvolvimento da criatividade e esta sobre à auto-estima e saúde (mental e física), e ao constatarmos que se nas escolas, os indivíduos encontram barreiras na expressão de suas ideias, pois os professores por não terem recebido formação específica na área, não compreendem a criatividade e talvez por isso têm medo dos seus efeitos nas suas rotinas de classe, imaginemos por outro lado o segmento de uma pessoa idosa, uma pessoa ao final de uma vida, onde a cultura segregadora afirma que já concluiu tudo, onde não há espaços sequer a repetir moldes, quanto mais a ser criativo? Imaginemos a falta da abertura social à criatividade da pessoa idosa, é na verdade mais um entrave a sua saúde, física e mental.
Constata-se que o mundo actual, onde se pretende inovações científicas que prolonguem a vida das pessoas dando-lhes mais saúde, e em prol disto se investem tanto dinheiro, contraditoriamente, esquecem-se de investir, o que necessitaria de tão pouco, nos espaços e oportunidades de criação para pessoa idosa, uma vez que a criatividade já é considerada como sinónimo de saúde e o ambiente afectivo, familiar, social, produtivo, como factores determinantes por serem valorativos e estimulantes do processo, o que promoveria mais condições para o melhoramento da qualidade de vida e seu prolongamento.
VISÃO HISTÓRICA E CONCEITOS
A procura pela explicação da criatividade, remonta desde os tempos da antiguidade. Naquela época o pouco conhecimento que existia sobre o pensamento humano, reduzia todos os fenómenos desconhecidos, ainda inexplicáveis, a causas divinas, sendo assim à criatividade ocorreria por inspiração e determinação dos deuses (Kneller, 1978). Ainda nos finais do período antigo, encontramos a relação da criatividade como forma de loucura, entendendo-se assim a espontaneidade do artista, e a originalidade do seu pensamento como uma ruptura de pensamento, na medida do que destoava do que era estabelecido e esperado pelos padrões vigentes da sociedade (Foucault, 1981).
No século XVII, o empirismo dominante, trouxe a compreensão de que as ideias humanas seriam oriundas da experiência e representavam objectos reais (Hilgard, 1966). A partir disto, o associacionimo desenvolveu-se, influenciando, posteriormente, trabalhos importantes onde a explicação para o comportamento humano consiste na relação estímulo e resposta (Skinner, 1974). Em oposição a esta linha comportamental, a teoria gestaltista (Wertheimer, 1945) apresentou a proposta de que o funcionamento do indivíduo era explicado como sendo uma busca de “solução” para uma gestalt, ou forma “incompleta” (Kneller, 1978).
Na perspectiva psicanalista, a partir de Freud (1958) a explicação do funcionamento do indivíduo, é enfatisada na afectividade e nas necessidades emocionais da pessoa, e à criatividade é entendida como uma forma inconsciente de solucionar conflitos internos. O processo criativo seria resultante de uma sublimação dos instintos sexuais primitivos, orientados para actividades produtivas e socialmente aceitas, como por exemplo, a pintura, a literatura e a música. Sob este prisma, a criatividade e a neurose surgiram da mesma fonte, ou seja, um conflito inconsciente.
A contribuição da Teoria Humanista, enfocando a potencialidade para a saúde mental do ser humano, sobrepôs àquela oferecida por Freud, que sempre destacou os mecanismos neuróticos e doentios do indivíduo. A linha humanista recebeu grande contribuição (Maslow, 1968) ao conceito da criatividade, ao detalhar a hierarquia das necessidades humanas. Na pirâmide hierárquica das necessidades humanas descritas por Maslow, na base está “ser alimentado” e “ser cuidado” e por último encontra-se o desejo de auto-realização, o qual está relacionado com a criatividade.
Outras contribuições foram dadas a explicação dos fenómenos criativos do comportamento humano, contrapondo-se a percepção da dinâmica afectiva do indivíduo, estas outras contribuições tiveram por base uma explicação cognitivista (Osborn, 1953, Guilford, 1960, e De Bono, 1970), dentre as quais destaca-se “Técnica Criativa de Solução de Problemas”, cuja proposta aponta a possibilidade de se desenvolver o pensamento criativo através de estratégias específicas. Até hoje se utiliza a famosa “Tempestade de Ideias” como etapa estratégica de um processo de criação.
* Graça Campos – psicóloga há mais de 30 anos, natural do Recife, Pernambuco, vive há quase 7 anos no Grande Porto, Portugal, onde trabalha para o Ministério da Saúde, e onde concentra-se também parte da sua história familiar.
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