*Paulo Lopes
O termo estresse é amplamente usado na linguagem atual e nos meios de comunicação. Ele está relacionado ao sentido de mudança, que é um dos mais efetivos agentes estressores. Como desde o momento de nossa concepção enfrentamos mudanças continuamente e a manutenção da vida depende justamente da capacidade de nos adaptarmos a essas mudanças, podemos concluir que o estresse é inerente à vida.
Nossa saúde e nossa felicidade dependem da nossa capacidade de ajustamento ao ambiente em que vivemos. Esse contínuo processo de adaptação consome energia e por isso o estresse pode ser considerado como o grau de desgaste total causado pela vida.
Assim, qualquer mudança em nossas vidas tem o potencial de causar estresse, tanto as boas quanto às más. Na verdade, ninguém pode viver sem estresse e isso não diz respeito apenas a doenças físicas ou mentais, traumas, contrariedades e tensões. Todas as situações que podem acionar os mecanismos de adaptação geram estresses. Esses estresses não são necessariamente prejudiciais ao organismo, desde que esteja capacitado a recebê-lo, de modo que uma mesma situação possa levar um indivíduo à doença, e ser uma experiência revigorante para outro. O estresse ocorre, então, de forma variável, dependendo da intensidade do evento de mudança.
Os processos adaptativos de nosso organismo às mudanças físicas ou psicológicas que enfrentamos constituem a chamada Síndrome de Adaptação Geral, expressão usada por Hans Selye o criador da moderna conceituação de estresse.
Quando estamos em uma situação que haja uma ameaça à nossa homeostase, ou seja, ao nosso equilíbrio bio-psíquico, a reação básica é a de luta ou fuga. Preparando-se para tais reações, o organismo aciona imediatamente mecanismos neuro-hormonais que se manifestam por alterações cardiovasculares, respiratórias, gastrintestinais, urinárias etc.
Para que ocorra uma reação de estresse é necessária a interação de três fatores: o estressor, o contexto e a vulnerabilidade.
Os estressores, agentes de mudança, são representados por inúmeros agentes físicos, químicos, virais, bacterianos, biológicos e sociais, especialmente os resultantes de conflitos interpessoais, manifestos de modo verbal ou simbólico.
Os fatores de contexto são os inerentes ao ambiente em que vivemos, seja ele o familiar, o de uma empresa, de uma nação ou mesmo mundial. Entre eles podemos considerar as condições de vida em termos de padrões morais e sociais, econômicos, de segurança, políticos etc.
Os fatores de vulnerabilidade são os que dizem respeito à nossa individualidade em termos de hereditariedade, personalidade, idade, sexo, grau de instrução, experiências de vida etc. A personalidade é um dos mais importantes fatores de vulnerabilidade, pois condiciona nosso comportamento e nossa interpretação subjetiva do potencial estressor de uma situação.
São esses fatores, especialmente os de vulnerabilidade, que explicam o porque de um agente ser estressor para um indivíduo e não o ser para outro.
Como nossos recursos fisiológicos são limitados e como os efeitos do estresse são cumulativos, os limites de nossa tolerância individual podem ser ultrapassados e, nessas condições, tornamo-nos mais vulneráveis às doenças. Problemas físicos produzem alterações mentais, emocionais e comportamentais, da mesma forma que problemas emocionais podem levar a sérias desordens orgânicas – as doenças psicossomáticas – comumente relacionadas ao estresse.
Não é razoável supor que a exposição a uma situação estressante seja a única e suficiente razão para a ocorrência de uma doença qualquer, entretanto torna-se incontestável a marcante influência do estresse na grande maioria dos estados mórbidos.
Hans Selye dividiu o processo de estresse em três fases, que se sucedem quando os agentes estressores continuam de forma não interrompida em sua ação:
v Fase de Alerta: é a fase em que os estímulos estressores começam a agir. Nosso cérebro e hormônios reagem rapidamente, e podemos perceber os seus efeitos, mas somos geralmente incapazes de notar o trabalho silencioso do estresse crônico nesta fase. Se o indivíduo conseguir aproveitar esta fase para atuar sobre seu agente estressor, a energia que o estresse lhe oferece pode ser usado para seu proveito próprio. Nesta fase o indivíduo fica mais alerta e seu corpo com o metabolismo mais acelerado.
v Fase de Resistência: se o estresse persiste, é nesta fase que começam a aparecer as primeiras conseqüências mentais, emocionais e físicas do estresse crônico. Se o agente estressor continua atuando sobre o indivíduo, o corpo que já está cansado, passa a ficar desgastado pelo grande consumo de energia que utiliza. Nesta fase o indivíduo começa a sentir bastante cansaço e a resistência orgânica enfraquece, podendo desenvolver problemas simples como dor de cabeça, gripes e resfriados constantes, e espinhas, dentre outros. Há dificuldades de concentração e de memória, e também um decréscimo importante na produtividade.
v Fase de Exaustão: é a fase em que o organismo capitula aos efeitos do estresse, levando à instalação de doenças físicas ou psíquicas. Se o indivíduo continuar reagindo ao agente estressor ou não conseguir resolver a situação que origina o estresse, o organismo entra em exaustão, e pode necessitar de uma hospitalização para cuidados médicos especializados e intensivos. As doenças que já tinham na segunda fase aumentam sua intensidade, e doenças mais sérias como hipertensão arterial crônica, úlcera gástrica, diabetes, depressão, problemas de pele, dentre outros, se instalam.
Para controlar e administrar o estresse é necessário uma qualidade de vida favorável à saúde. Não confundir qualidade de vida (afetividade, alimentação saudável, contato com amigos e familiares, atividade física, vivência religiosa, atendimento de suas necessidades básicas de moradia, sono e lazer) com padrões de vida (dinheiro, posses, luxo, muitas facilidades, etc.).
Várias estratégias se aplicam com sucesso no tratamento do estresse:
v Alimentação saudável: em todas as fases do estresse, o corpo consome mais energia, vitaminas e sais minerais. Uma alimentação saudável o ajudará a manter suas reservas de energia e substâncias vitais para a saúde.
v Relaxamento psicossomático: utilizando técnicas de relaxamento, tanto cognitivas quanto física, descansaremos ao mesmo tempo o corpo e a mente, diminuiremos a ansiedade, relaxaremos os músculos e nosso metabolismo trabalhará mais lentamente, favorecendo um reequilíbrio e recuperando a energia gasta.
v Atividade física: o exercício físico contribui para que o corpo “queime” a tensão acumulada sobre o organismo relaxando-o, além de tonificar os músculos e melhorar a oxigenação.
v Psicoterapia: através de um processo psicoterapêutico, aprende-se a avaliar o estilo de vida, aceitar as mudanças, reconsiderar prioridades e atitudes favoráveis à sua saúde e qualidade de vida.
*Paulo Lopes é psicólogo clínico com consultórios nas cidades de João Pessoa e de Recife.
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