Durante toda a semana passada, inúmeras empresas tentaram emplacar nas páginas de sites e jornais produtos pouco inspirados que exibiam na feira CES, em Las Vegas. A primeira notícia relevante na tecnologia do ano, no entanto, estava acontecendo a quilômetros dali, em Mountain View, Califórnia, na sede do Google. Foi o lançamento de sua busca social. Despertou de presto acusações de prática anticompetitiva, provocou uma investigação por parte do governo americano e, discretamente, mudou por completo a maneira como o Google vê o conceito de busca. A empresa não é necessariamente vilã nessa história. Mas, semana passada, algo de profundo mudou na internet.
Busca social é simples de explicar: o freguês digita o que procura, bate enter, o Google responde com páginas, vídeos, notícias e, a partir de agora, aquilo que seus amigos comentaram sobre o assunto nas redes sociais. Ou então recomenda quem seguir nas redes que seja relevante quando se trata do assunto buscado. É um serviço útil. Mas há um problema: todas as respostas estão no Google Plus, a jovem e ainda um quê deserta rede social do próprio Google. Facebook ou Twitter não aparecem.
Danny Sullivan, editor do blog Search Engine Land e talvez o mais respeitado jornalista especializado em buscas na rede, cita um exemplo pontual que deixa o problema claro. Quem digita "Music", música em inglês, recebe as recomendações de seguir as páginas no Google das cantoras Britney Spears e Mariah Carey e do rapper Snoop Dogg. Uma cantora particularmente ativa nas redes sociais como Lady Gaga não aparece. Ela é ativa no Twitter. Também não aparece a moça Katy Perry, que tem 40 milhões de fãs no Facebook. Britney tem apenas 1,4 milhão de seguidores na rede do Google. A relevância não é apenas numérica. Britney atualiza pouco sua página no Google , e com razão. Tem 1,4 milhão de seguidores lá. Tem 16 milhões no Facebook. É bem menos do que Perry, mas é onde seus fãs encontrarão mais notícias. O Google usa seu site de buscas para promover a rede social do Google.
Aí cabem duas perguntas. A primeira é: e daí? O Google faz o que quiser, a empresa é dele, o mundo é competitivo. Assim, ao menos, poderia seguir um argumento. A outra vai além: não foi o Facebook que, inicialmente, negou ao Google acesso a seus dados? À segunda questão primeiro. Esta é uma briga boa e, dela, só temos versões. É onde entra outro jornalista, o hoje empresário John Battelle, autor de The Search, a primeira história do Google. A negociação entre as duas empresas foi difícil. Segundo suas fontes no Facebook, o Google exigia que toda informação fosse pública e se recusava a fazer mudanças conforme a política de privacidade do site de relacionamento mudasse. Uma das preocupações do Facebook: se o sujeito publicasse fotos que todos pudessem ver, o Google indexaria as imagens. Se depois de um tempo ele mudasse de ideia, o Google deveria apagar suas cópias. Parece razoável.
As fontes no Google dizem que a conversa não foi nada assim. O Facebook, segundo elas, queria proibir o Google de usar informação "disponível publicamente" para criar um serviço de redes sociais. Aí, a interpretação é o diabo. O que é um serviço de redes sociais? No limite, busca social pode ser uma rede social. Também é razoável considerar que as condições faziam o Google se sentir refém de qualquer mudança de humor do Facebook. Interpreta como quer, quando quer.
E, sim, o Google tem todo o direito de usar seu sistema de busca como deseja. Inclusive para promover seus produtos. Mas este não é seu discurso. A empresa sempre garantiu que seguia padrões da melhor imprensa. Dava como resultado de busca o melhor da informação, não importa a origem. E sempre foi assim. Se o melhor vídeo não estava no YouTube, seu site, era o melhor que aparecia não importa a origem. O resultado da busca social já não segue mais este critério.
Então algo de profundo mudou. Difícil dizer quem tem razão numa briga entre Facebook e Google. Ambas competem duro. E, agora, usam suas armas a qualquer custo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário