segunda-feira, 16 de julho de 2012

Revolução a caminho

Ao tempo em que a Arena Pernambuco ganha forma em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR), os torcedores locais ficam cada vez mais próximos de iniciar uma experiência inédita no esporte. Novas arenas costumam causar impacto mesmo no rico futebol europeu, acostumado a um nível de organização superior ao nosso. Quando colocada em um contexto com os arcaicos estádios locais, essa revolução será ainda mais sentida. A partir de 2013, começarão a ser formadas gerações de torcedores que desconhecerão a necessidade de sentar no cimento de uma arquibancada, assistir a um jogo espremido entre milhares, ou usar um banheiro com inúmeras violações de higiene. A Folha de Pernambuco aproveita o marco do dia 16 de julho (11 meses para o primeiro jogo da Copa das Confederações marcado para a Arena Pernambuco) para lançar a série mensal “Uma nova visão do futebol”, voltada para os torcedores pernambucanos. O espaço aprofunda o debate sobre temas como conforto, segurança, relação com os clubes, gestão, marketing e todos os outros fatores que ajudarão a moldar a “torcida do futuro”. Apesar da grande relevância, os eventos Fifa são apenas a ponta do iceberg. E quanto mais conhecimento antecipado, mais rápida e melhor será a adaptação.

“Tirei um tempinho para fazer uma busca pela memória”, diz o gestor em marketing esportivo Joaquim Costa, de 26 anos, ao apresentar uma lista com o nome dos cerca de 40 estádios que já visitou pelo mundo. A experiência internacional em palcos esportivos começou a ser acumulada ainda garoto, na Olimpíada de Atlanta, em 1996, e ganhou novas informações no mês passado. Joaquim aproveitou a realização de um curso na sua área em Portugal para visitar arenas também na Alemanha e na Holanda.

Exigente, o gestor, que já realizou trabalhos em parceria com o Náutico, chega a uma conclusão inquietante ao traçar um paralelo entre o passado, presente e futuro do futebol pernambucano com o nível de aconchego nos estádios de outros países. “Alguns estádios são superestimados, como os antigos ingleses Old Trafford (Manchester United) e Anfield Road (Liverpool), que possuem alguns problemas estruturais e visuais. Mas, ainda assim, o abismo entre eles e o que se vê hoje em Pernambuco em termos de estrutura é absurdo”.

Um fator básico do (anti) conforto é evidente, mas está tão atrelado ao cotidiano do futebol local que, por vezes, nós não nos damos conta do seu caráter antiquado. Por mais que os banheiros, bares e organização das filas sejam citados, o principal item para o bem estar do público são os assentos. No caso dos locais vendidos a preços populares no Estado, a ausência deles provoca a necessidade de assistir a 90 minutos de ação sentados em um bloco de cimento sujo. Em dias de sol, pode somar o acúmulo de calor nas arquibancadas ao desagradável pacote.

Pagar um valor mais salgado também não garante o lazer livre de contratempos. O espaço da distribuição entre as cadeiras dos estádios locais também não são os adequados. A falta de manutenção no setor, com assentos soltos, sujos ou rabiscados, também não condiz com o que é pago. Já a maioria dos camarotes também não oferece serviços diferenciados, limitados a serem um espaço em separado para famílias ou grupo de amigos, que por vezes têm que levar até as próprias cadeiras.

“Meu avô acompanha tudo de futebol, mas parou de ir a estádio há décadas. O que fazem com os torcedores pernambucanos é um abuso. Um senhor de idade sofrendo com o aperto e o desconforto não é algo certo. Para as mulheres, ir ao banheiro é um verdadeiro sacrifício. Tudo isso vai mudar com o surgimento da Arena Pernambuco. Não apenas para o torcedor do Náutico (o Alvirrubro é o único clube acertado até o momento como mandante de jogos no novo palco). Quando os torcedores de Santa Cruz e Sport viverem essa experiência, vão rejeitar essa forma antiquada de ver futebol. Isso deve provocar mudanças”, ressalta Joaquim.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário