O Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe
a prática de terapias antienvelhecimento no país. Passa a ser vetada a
prescrição de qualquer tipo de hormônio ou outras substâncias com
finalidade de reduzir os efeitos do envelhecimento. Os médicos que
adotarem tais práticas estarão sujeitos a penalidades.
A resolução 1999/2012, publicada no Diário Oficial, restringe o uso de
hormônios, permitindo sua recomendação apenas para pacientes com
deficiência comprovada. De acordo com o relatório do CFM, uma revisão
dos estudos publicados sobre o assunto nos últimos seis anos concluiu
que “encontram-se evidências claras de riscos e prejuízos à saúde e
nenhuma ou pouca evidência de benefícios para a capacidade funcional,
qualidade de vida, cognição e para prevenir doenças crônicas associadas à
idade”.
Dessa forma, a indicação da terapia hormonal para pacientes com níveis
normais da substância fica proibida. “Estão vendendo a ilusão do
antienvelhecimento para a população sem nenhuma comprovação científica e
que pode fazer mal à saúde. Com a idade, o metabolismo mais lento e a
ingestão de algumas substâncias podem aumentar o risco de várias
doenças”, afirma Elisa Franco Costa, geriatra que auxiliou na pesquisa
do CFM.
Além da terapia hormonal, o parecer também proíbe a prescrição de
vitaminas, antioxidantes e hormônios bioidênticos como terapia
antienvelhecimento. Os testes de saliva, utilizados para acompanhamento
da menopausa ou doenças relacionadas ao envelhecimento, também estão
vetados, por não haver evidências científicas de sua eficácia.
Repercussão - Para Edson Peracchi, presidente da
Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento, a resolução do CFM é
positiva para evitar exageros, mas é restritiva no sentido da evolução
científica. “O que vai acontecer, na prática, é que serão realizados
novos trabalhos científicos e, com a evolução dos estudos, seguramente
essa resolução será revista”, afirma.
Ele ressalta que a medicina antienvelhecimento não tem como objetivo
transformar pessoas em super-homens, mas “evitar doenças e sintomas
tidos como inevitáveis”. Peracchi contesta a resolução em certos
aspectos. “A proibição de medicamentos é uma tarefa do Ministério da
Saúde, através da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). É
ilegal o CFM tentar legislar e tomar para si incumbências jurídicas que
não são dele. Os hormônios são legalizados no mundo inteiro. Logo, se
não é proibido em nenhum lugar do mundo, o CFM não é o órgão capaz de
ditar essa regra”.
Gláucia Carneiro, endocrinologista da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia de São Paulo, explica que os hormônios são
medicamentos legalizados e importantes em alguns tratamentos. Para ela, a
resolução impede apenas uma prática sem efeitos comprovados e serve de
alerta para a população. “Quando falta o hormônio, a gente pode repor. O
problema é que as pessoas estão usando sem critérios. O hormônio do
crescimento, por exemplo, pode aumentar o risco do desenvolvimento de
tumores e diabetes. Todos os hormônios têm seus riscos e não há nada que
comprove seu uso com efeito antienvelhecimento”, diz.
Precedentes- Em agosto deste ano, o CFM publicou um
parecer desaconselhando a prática da medicina antienvelhecimento, em
caráter orientador. A partir de agora, com a resolução, o médico fica o
impedido de praticar a terapia, podendo até ter seu registro
profissional cassado caso descumpra a norma.
A resolução sobre a medicina antienvelhecimento se relaciona com uma
série de decisões anteriores do CFM. Desde 2010, está em vigor uma
resolução que desautoriza o uso de técnicas sem eficácia comprovada
cientificamente. Também no mesmo ano, foi divulgado um alerta quanto à
ineficácia da medicina ortomolecular.
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