A Marisa, rede de lojas de roupas, foi suspensa do Pacto Nacional pela
Erradicação de Trabalho Escravo, criado em 2005 com 292 empresas
signatárias. O comitê que administra o pacto decidiu pela suspensão
diante da ação da empresa na Justiça contra os 43 autos de infração
emitidos por fiscais do Ministério do Trabalho, depois que fornecedores
da rede foram flagrados usando mão de obra escrava em março de 2010.
Foram encontrados em condições análogas à de escravos 16 bolivianos,
sendo um menor e um peruano trabalhando em confecções na zona norte de
São Paulo. Há um mês, a rede Zara de roupas também foi suspensa do
pacto. Fornecedores da rede foram flagrados usando mão de obra escrava.
Segundo
Caio Magri, gerente de Políticas Públicas do Instituto Ethos, um dos
gestores do pacto, a suspensão foi causada pela defesa da empresa da
inconstitucionalidade da lista suja do trabalho escravo na ação para
contestar os autos impostos pelos fiscais do Ministério do Trabalho.
“O
Comitê reconhece o direito de as empresas se defenderem, entretanto,
entre os argumentos, questiona a constitucionalidade da lista, numa
contradição clara, já que a lista é o instrumento central de todas as
empresas que assinam o pacto. Elas se comprometem a usar e consultar a
lista para contratar fornecedores. Essa medida enfraquece a luta contra o
trabalho escravo”, destacou.
A Marisa, cujo presidente é Marcio
Luiz Goldfarb, conseguiu na Justiça liminar para não ser incluída na
lista suja. A inclusão na lista também suspende a empresa do Pacto.
“Esperamos que, ao fim do processo, o Supremo considere a lista
constitucional”, afirma Magri.
A Marisa esclareceu, em nota, que é
favorável à existência da chamada “lista suja” do Ministério do
Trabalho e Emprego, “importante instrumento para erradicação do trabalho
escravo no país”. Mas questiona a constitucionalidade da portaria que
regula a lista suja, “por entender que estes critérios afrontam os
princípios constitucionais da ampla defesa, do devido processo legal e
da presunção de inocência”. O processo administrativo para inclusão na
lista leva dois anos depois da autuação.
A companhia diz que,
independentemente da suspensão anunciada, reforça seu apoio aos
princípios do pacto nacional contra o trabalho escravo.
Para Luiz
Machado, coordenador do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da OIT,
outra entidade gestora do pacto, é uma incoerência a ação da Marisa, já
que a lista é usada no rastreamento da cadeia de produção. As duas
redes de lojas ainda não foram excluídas definitivamente. Se abrirem mão
desse argumento da ação podem voltar a serem signatárias. “O pacto fica
em xeque. Desde a sua criação, foram excluídas 80 empresas.”
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