O abate de frangos e suínos registrou no primeiro trimestre de 2012 o
maior aumento desde o ano 2000, informou o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Foram 830,1 mil toneladas de suínos e 2,9
milhões de toneladas de frango. Desses, poucos produtos finais têm
certificação de bem-estar animal.
Uma das únicas empresas certificadas no País, a Korin Agropecuária,
foi responsável pelo abate de 4 milhões de frangos no ano todo. Pelo
peso médio nacional, isso equivale a 8,6 mil toneladas, ou 0,3% do total
da produção do trimestre.
Frangos e suínos são as criações que menos seguem as regras
internacionais de bem-estar. A fim de aumentar a produção, os animais
seriam confinados em ambientes apertados, sem luz natural e submetidos a
alimentação excessiva para ganhar peso mais rapidamente. Essas práticas
interferem na qualidade do produto que chega à mesa do consumidor. No
Brasil, segundo especialistas, as práticas de bem-estar ainda são pouco
conhecidas, mas passam a ser exigidas pelos compradores, cada vez mais
preocupados com a saúde.
A Korin foi a primeira empresa a produzir frango seguindo normas de
bem-estar em escala industrial no Brasil. A empresa cria os animais sem o
uso de antibióticos, oferece no mínimo seis horas de descanso no escuro
por dia - as aves em criação intensiva são expostas à luz artificial 24
horas por dia a fim de acelerar o metabolismo e promover o crescimento
mais rápido - e alojam as aves em galpões respeitando limites de
lotação, para que possam se movimentar.
“A adoção de práticas de bem-estar animal proporciona a redução dos
índices de condenação, melhor qualidade do produto final e a
conscientização dos consumidores [sobre] os cuidados adotados no trato e
abate dos animais, uma vez que o selo da certificação é colocado nos
rótulos dos produtos”, explica a coordenadora de Produção Animal da
Korin, Leikka Iwamura. Segundo ela, a empresa pretende expandir a
produção para as carnes suína e bovina no próximo semestre.
Para a normatização, a empresa recorreu à Humane Farm Animal Care
(Hfac), certificadora norte-americana, que estabelece como os animais
devem ser criados. No Brasil, existe apenas uma certificadora, a filial
da francesa Ecocert, que também segue as normas da Hfac. A empresa tem
apenas cinco clientes na área animal contra 5 mil produtores de
orgânicos certificados.
“Esse número [cinco clientes] não vem crescendo. Muita gente
pergunta, mas não temos um aumento no pedido de certificações. O nível
de adesão em países europeus e nos Estados Unidos é bem maior. O
bem-estar animal é bem mais estudado e exigido nesses países”, diz o
diretor-geral da Ecocert Brasil, Luiz Mazzon. Segundo ele, nos Estados
Unidos está disponível um aplicativo capaz de localizar restaurantes que
vendem carne certificada. “O assunto aqui só vai começar a deslanchar
com o interesse do consumidor”, acrescenta.
O interesse existe, mas os consumidores muitas vezes não sabem como
exigir o bem-estar animal e acabam deixando de comer carne
completamente. A estudante Giulia Batelli é vegetariana há um ano, desde
que assistiu a um vídeo sobre sofrimento animal. Ela admite que até
hoje está se adaptando e acredita que ainda não se alimenta bem. Sente
falta de carne, mas se recusa a comprar de grandes produtores que não
têm certificação. Os alimentos certificados são difíceis de encontrar e
caros.
Além da falta de certificação, há produtores de criação intensiva que
divulgam fotografias e ilustrações de animais em pastos, ao ar livre,
quando não é esse o modo de produção. Não há no país exigência de que se
divulgue no rótulo o modo de criação do animal. Assim, a divulgação de
fotografias pode induzir a erro.
“Às vezes, o produto não é transgênico em si, mas a galinha, por
exemplo é alimentada com ração que contém transgênico. Isso altera o
produto final, mas não vem no rótulo”, explica o diretor-presidente do
Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo
(Ibedec), José Geraldo Tardin.
O consumidor que se sentir lesado deve fazer uma denúncia na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que pode ser feito pela
internet. A partir daí, o produtor deve ser submetido a uma inspeção. O
consumidor pode também registrar um boletim na Delegacia de Defesa do
Consumidor (Decon), que o submeterá à perícia da Polícia Civil. Após
esses laudos é possível promover ação na Justiça por dano material ou
moral.

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