Uma inquietação imensa tomava conta dos fãs da antológica “Jornada nas
Estrelas” em 2009, quando a série ganhava uma nova versão
cinematográfica pelas mãos do diretor J. J. Abrams, cuja única
referência na tela grande era “Missão Impossível 3” (2006). Uma vez
conferida à nova cara, ritmo e estética dada por Abrams ao novo lugar
“onde nenhum homem jamais esteve”, os fãs respiraram aliviados. Nesta
sexta-feira (14), com a estreia em todo o País da sequência “Além da
Escuridão: Jornada nas Estrelas” (Star Treck: Into the Darkness, EUA,
2013), os trekkers (aqueles que adoram tudo a respeito da série) podem
relaxar mais uma vez.
E não apenas eles. É provável que o grande acerto de Abrams nos dois
exemplares desperta o interesse e aproximação do não-fã a sofisticada
trama intergaláctica que saiu da cabeça deGene Roddenberry e brilhou na
TVnos anos 1960. Umdos vetores quemovimentam essa aproximação é amaneira
como Abrams aposta nos atores - em particular Chris Pine (como Capitão
Kirk) e Zachary Quinto (como o vulcano Spock) -, que incorporam com
correção o perfil dos personagens já tão familiares na história.
Este destaque vai para as diferenças e aproximações que tornam a dupla
de amigos queridos entre si. Detalhes que aparecem de cara na sequência
de abertura do novo filme. A Entreprise - aeronave da tripulação - está
disfarçada submersa num mar de um planeta remoto para que os nativos do
local não a descubra. Enquanto isso, Spock está no coração de umvulcão
prestes a entrar em erupção. Para não quebrar o protocolo, o vulcano não
se importa em morrer na missão. Para salvar o amigo, Kirk não se
importa em quebrar o protocolo e mostrar a nave aos nativos.
A brincadeira, que já enche os olhos pelo belo visual e efeitos 3D
caprichados da produção, é só um aperitivo que reforça o quanto os dois
pensamdiferente, mas partilhamdo mesmo sentimento de amizade. Uma destas
situações, inclusive, pode intrigar alguns trekker, pois a força da
camaradagem entre Kirk e Spock os coloca numa situação em que Spock
chora. Para qualquer humano, não há nada de extraordinário numa lagrima
escorrendo pelo rosto. Mas quando se trata de um vulcano, diriam os
trekkers, isso seria inadmissível, uma vez que a tal raça é guiada
essencialmente pelo raciocínio lógico. Para aliviar alguma possível
irritação pela lágrima de Spock, o novo filme dá uma ponta a Leonard
Limoy, 82 anos - ator que encarnou Spock na TV e nos seis filmes que
foramao cinema entre 1979 a 1991.
No filme, J. J. Abrams aproveita-se também desta característica de Spock
para criar um humor refinado. Não são poucas as situações aqui em que
Kirk ou Uhura (o affair de Spock, vivida por Zoe Saldana) contradizem
razão com reações espontâneas da emoção, provocando assim um conflito na
cabeça do vulcano.
Com mote simples, J.J. Abrams nos apresenta um filme convincente,
descomplicado, mas sofisticado. Com informações que só são críveis
porque são dramaticamente muito bem administradas, e no ritmo certo. Do
ponto de vista da ação, o filme é uma festa a qual suas 2h20min. passam
muito rápido. Atenção para a perseguição à velocidade da luz numa curva
intergaláctica. Com este resultado empolgante para “Jornada nas Estrelas
2”, fica a água na boca para o terceiro da franquia, que só estreia em
2016. Antes, em 2015, veremos “Guerra nas Estrelas: Episódio 7”, também
conduzido pelas mãos de Abrams. É muita responsabilidade.
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