terça-feira, 3 de setembro de 2013

'Só médico não resolve problema', diz brasileiro do 'Mais Médicos' no Recife

Tempo para conhecer o paciente e entender os problemas de saúde que ele tem, junto a uma estrutura para poder atender e medicar quando preciso. É isso que defende o médico Sérgio Veloso, 64 anos, selecionado pelo programa 'Mais Médicos' para atuar na Unidade de Saúde da Família de Jardim Uchôa, no bairro de Areias, Zona Oeste do Recife. Nesta terça (3), Veloso começou o atendimento aos pacientes. “A classe médica hoje está fabricando dependentes químicos, mal olha o paciente e está receitando remédio. A pessoa não consegue dormir e já passam algo, sem nem ouvir”, apontou o médico em conversa com o G1.
O médico defende que, para conseguir ter esse cuidado com o paciente, é preciso ter estrutura e equipe. Com mais de 30 anos de profissão, Veloso nem sempre teve essa base. “Só médico não resolve o problema de ninguém. Já trabalhei em muitos lugares, é complicado você ter um paciente com pressão alta, pedir para aplicarem o remédio e responderem que não tem medicamento intravenoso. Se 20% dos postos de saúde tivessem uma equipe comprometida e uma estrutura adequada, remédio, a situação seria bem diferente no Brasil”, explicou Veloso, que vai ser responsável por 946 famílias da comunidade.
O posto de Jardim Uchôa conta com duas equipes de saúde de família, sendo que uma delas estava sem médico há oito meses. A unidade foi reformada há aproximadamente um ano e conta com climatização, além das salas de acolhimento, recepção, curativo, coleta e consultórios. O médico Ivo Rabelo atendia os pacientes das duas equipes, mas explica que era uma situação complicada. “A gente não tinha condições de fazer o trabalho de prevenção direito, você quebra um galho, mas não resolve os problemas”, afirmou.
A aposentada Zoraide Lins, de 72 anos, chegou a se aborrecer por não conseguir consulta. Com pressão alta, chegou a passar mal. Conseguiu ser atendida pelo novo médico nesta terça. “Eu não sei se tenho diabetes também, fico com medo de comer um doce e ter alguma coisa. Estou feliz, consegui ser medicada e vou fazer meus exames”, disse a aposentada, que recebeu a recomendação de diminuir a quantidade de sal na comida.
Para conseguir uma consulta, por vezes a dona de casa Maria Aparecida da Silva, 63 anos, tinha que chegar às 4h. “Vai mudar muita coisa agora, espero que tenha mais calma agora. O outro médico era atencioso, mas cuidava de muita gente. As pessoas nem sempre entendiam, ele passava até do horário, mas tem gente que não quer saber”, contou.
A aposentada Irailda Nascimento, 65 anos, sabe que não vai acontecer um milagre e afirma que as pessoas precisam aprender a ter calma. “A tranquilidade do atendimento depende da paciência das pessoas, não é? Um só médico não estava dando, mas o povo nem tentava entender, só sabia reclamar. Eu sempre fui bem atendida”, relatou.
Desafios
Enfermeira da equipe de Veloso, Lisbeth Rosa Lima explica que a situação estava realmente complicada com um médico a menos, mas que não basta o profissional estar presente, é preciso ter consciência do projeto desenvolvido. “Os profissionais têm que estar sensibilizados de como funciona o Programa de Saúde da Família, não é uma medicina apenas curativa, a gente faz prevenção. Temos uma comunidade com uma série de problemas, muitos ligados a maus hábitos alimentares. Além disso, temos a questão do difícil acesso, são locais que ficam alagados com chuva, áreas de preservação ambiental que invadiram”, detalhou.
Formado pela Universidade de Pernambuco (UPE) e com especialização em medicina do trabalho e saúde pública, Veloso conta que agora está trabalhando com o que gosta. “Eu não gosto de cirurgia, mas em emergência você acaba tendo que fazer uma cesárea. Eu trabalhava em emergência, mas saí com a mudança de governo”, contou o médico. Do bairro do Espinheiro, onde mora, até Areias, o médico pegou um ônibus. “O acesso aqui ao posto é um pouco difícil, não tem ponto perto, mas faz parte”, disse.
Em fevereiro deste ano, o desafio foi lutar pela própria saúde. Chegando a pesar 230 quilos, Veloso se submeteu a uma cirurgia bariátrica e perdeu até o momento cerca 65 quilos. “Eu já passei por muita coisa na vida, já ganhei muito dinheiro e perdi tudo. Aqui, eu me sinto seguro. Fui bem recebido. Tenho problemas para caminhar, mas nada que me impeça de trabalhar. Meu medo é cair, mas isso não vai me impedir de ir até casa dos pacientes que precisarem”, garantiu Veloso.

Ausências
Dois dos seis médicos que se apresentaram à Prefeitura do Recife através do programa 'Mais Médicos' não compareceram às unidades nesta terça. A alagoana Adeisa Maria Toledo, 57 anos, entrou com pedido de licença médica de 15 dias, de acordo com a Secretaria de Saúde do município. No bairro da Bomba do Hemetério, na Zona Norte do Recife, a comunidade também não encontrou médico na Unidade de Saúde da Família Luis Wilson. As informações são de que Carlos Alberto Seal da Cunha, contratado pelo programa Mais Médicos, foi trabalhar na segunda-feira (3) à tarde mas, na manhã desta terça (4), ele não apareceu – teria ido providenciar documentos para a contratação.

Para fazer parte do programa, os profissionais devem apresentar uma série de documentos, como diploma, registro profissional e termo de adesão assinado, além de começar a trabalhar até 12 de setembro, a fim de receber a bolsa de R$ 10 mil. Procurada pelo G1, a assessoria do Ministério da Saúde em Pernambuco informou que, como a médica justificou a ausência, não deveria ser excluída do programa, mas que cada caso deve ser analisado.

A Secretaria Executiva de Gestão no Trabalho e Educação na Saúde do Recife disse que os médicos que não se apresentaram estão sendo procurados e, caso digam que não querem atender, o Ministério da Saúde será comunicado para a substituição
Fonte: G1

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