quinta-feira, 6 de março de 2014

Greve dos Correios é a maior da história

Trinta e seis dias de greve e 16 milhões de cartas e encomendas atrasadas em Pernambuco. Esse é o saldo da paralisação mais longa da história dos Correios e a estimativa leva em consideração o fluxo médio de dois milhões de cartas e encomendas e o represamento equivalente a oito dias admitida pela empresa. E, por enquanto, nada sugere que o movimento paredista esteja perto do fim. Isso porque trabalhadores e Correios ainda esperam que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) agende o julgamento que irá definir o rumo da greve que atinge 17 sindicatos em 15 estados do País. Juntos, eles representam 70 mil dos 120 mil ecetistas.
O título de greve mais longa dos Correios, segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos de Pernambuco (Sintect-PE), pertencia à paralisação de 1988, que durou 31 dias. Na ocasião, segundo o presidente do Sintect-PE, Hállison Tenório, a principal reivindicação era a implantação do vale-alimentação. Desta vez, a briga é pela manutenção do plano de saúde da categoria, o CorreiosSaúde, conquistado em 1985 e substituído, desde 1º de janeiro, pelo Postal Saúde. A reclamação é que a alteração foi feita sem a consulta aos trabalhadores, o que teria ferido o último Dissídio Coletivo da categoria, julgado em outubro, também pelo TST.
Um dos medos dos trabalhadores é que, com a mudança, eles tenham que pagar mais para manter o benefício. Até então, cada beneficiário pagava 20% do valor total do procedimento realizado. A empresa, por sua vez, garante que não haverá alterações. “A implantação do Postal Saúde deveria ter sido discutida em mesa paritária. No entanto, a Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares) só foi chamada para negociar no dia 10 de janeiro, quando o plano já estava em funcionamento”, criticou Tenório.
Segundo o sindicalista, há sete anos a empresa pretende modificar o plano de saúde. “As três últimas campanhas salariais dos Correios foram julgadas pelo TST e nosso foco sempre foi o plano de saúde”, afirmou. “Nosso piso salarial (R$ 1.084) é o mais baixo entre as empresas públicas do País. O plano, que também se estendia aos aposentados e aos nossos familiares, era uma compensação pelo baixo salário que recebemos”, argumentou.
A expectativa de Tenório é que o julgamento do Dissídio Coletivo seja marcado para a próxima semana. “O que o TST definir servirá para os trabalhadores de todo o País. Estamos confiantes de que ele permanecerá com a decisão de que cabe à ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) gerir o nosso plano, salvo se houver acordo em mesa paritária”, ressaltou.
Uma categoria dividida pela política
Em ano eleitoral, o grande xis dessa greve, na opinião do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos de Pernambuco (Sintect-PE), Hállison Tenório, é a política. Dos 35 sindicatos que representam os servidores no País, 17 estão em greve, todos ligados à Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), que soma, na sua base, 29 sindicatos. Os demais, afirmou Tenório, são dirigidos por entidades governistas.
Entre os grevistas, apenas seis são filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), vinculada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Os demais fazem parte de outras centrais sindicais, como a CSP-Conlutas e a Intersindical. “A corrente majoritária dentro da CUT é a Articulação Sindical, responsável pela direção dos 12 sindicatos vinculados à Fentect que não estão em greve. Como ela é governista, ela freia os trabalhadores”, criticou Tenório.
Do outro lado estão os seis sindicatos filiados à Federação Interestadual dos Empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Findect), que abrangem 40% da categoria e também não estão participando do movimento. Na lista estão o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios e Similares de São Paulo e região postal de Sorocaba (Sintect-SP) e o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro (Sintect-RJ).
“Não contar com os maiores sindicatos atrapalha a greve. Se eles estivessem presentes, a greve não duraria tanto tempo”, ponderou Tenório. Segundo o sindicalista, a Findect é ligada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que também faz parte da base de sustentação do Governo Dilma Rousseff. 

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