sábado, 5 de novembro de 2011

Radicais sem rosto


Eles nasceram na elite, estudam numa das melhores universidades do Brasil, usam roupas e tênis de marca, se dizem anarquistas e afirmam que defendem a causa operária. Os estudantes que lideraram as manifestações contra a presença da Polícia Militar no campus da USP (Universidade de São Paulo) nas últimas semanas compõem um grupo pequeno, movido por questões ideológicas ultrapassadas, mas capaz de gerar uma discussão de âmbito nacional. Munidos de paus e pedras, e com os rostos cobertos para não serem identificados, cerca de 50 jovens invadiram a reitoria da USP na terça-feira 1o, como forma de forçar o reitor, João Grandino Rodas, a retirar a PM da universidade. O protesto foi motivado pela repressão a três alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pegos fumando maconha no campus. Quando seriam encaminhados a uma delegacia para assinar um termo circunstanciado, outros estudantes intervieram e a PM usou cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. A ação truculenta da polícia serviu de gatilho para que os radicais colocassem em prática o movimento autointitulado Ocupa USP – Contra a Repressão. Na quinta-feira 3, a Justiça autorizou a reintegração de posse do prédio da reitoria. Mas eles decidiram manter a ocupação.

A principal reivindicação do grupo, coordenado por três correntes de extrema-esquerda – a Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional, o Movimento Negação da Negação e o Partido da Causa Operária (PCO) –, é a suspensão do convênio entre a PM e a universidade, firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, baleado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) em maio passado. O episódio chamou a atenção da sociedade para a falta de segurança no campus e levou a reitoria da USP a pedir reforço no policiamento. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a iniciativa conseguiu reduzir significativamente a incidência de diversas modalidades de crimes na universidade (leia quadro). Esse argumento, no entanto, é desconsiderado pelos garotos mascarados. “O real objetivo da Polícia Militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores”, dizem os estudantes no Manifesto da Ocupação, publicado na internet. Além disso, eles também exigem que os processos administrativos movidos contra docentes e discentes da USP, devido a ocupações anteriores, sejam suspensos.



Apesar de fazer muito barulho, o grupo dos radicais não representa a opinião dos mais de 80 mil estudantes da USP. Na terça-feira 1o, alunos de diversos cursos realizaram uma manifestação pró-PM no campus, apoiada pelo Centro Acadêmico da FEA. “A presença da PM na USP tem apoio de 80% dos alunos da FEA e da Politécnica”, diz Thomás de Barros, estudante de economia e diretor de comunicação do CA da FEA. A postura dos radicais de extrema-esquerda é vista com maus olhos até mesmo entre aqueles que não querem a polícia atuando dentro da universidade. “Sou contra a PM no campus, mas também não concordo com a ocupação da reitoria”, disse um estudante de letras que não quis se identificar. A União Nacional dos Estudantes (UNE) declarou que não reconhece o grupo e que seu contato na USP é o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O próprio DCE, também contrário à presença da PM, não apoia os radicais. “Infelizmente, um setor minoritário do movimento, derrotado na votação da assembleia de 1o de novembro, agiu de forma antidemocrática ao ocupar a reitoria, deslegitimando o debate feito no fórum”, declararam em nota. 
Fonte: revista istoe

Nenhum comentário:

Postar um comentário