É um momento antológico da política brasileira: Luis Inácio Lula da Silva e Paulo Maluf, antagonistas históricos, e dos mais renhidos, de mãos dadas para dar à luz o "novo homem" Fernando Haddad, candidato petista à prefeitura de São Paulo. O encontro aconteceu na tarde desta segunda-feira, quando o Partido Progressista (PP) do deputado federal Paulo Maluf selou apoio à chapa encabeçada pelo PT nas eleições municipais deste ano. “Foi por amor a São Paulo”, disse o deputado sobre a aliança. Lula, incomumente, não disse nada desta vez.

Talvez pela proximidade com Lula, Maluf decidiu usar uma metáfora futebolística. “Política é como futebol: quem é palmeirense não gosta do Corinthians; quem é corintiano não gosta do Palmeiras. Alguém pode não gostar de mim, mas ninguém pode dizer que não conheço os problemas de são Paulo”. Em seguida, voltou à sua própria frequência de raciocínio politico: “Não devemos olhar pelo retrovisor, mas pelo para-brisa. Quem olha para trás não olha para frente”. Irretocável.
No passado, o fato de ser petista, por si só, já era considerado um defeito incorrigível por Maluf. Foi assim que ele tentou ofender sua então adversária, na eleição de 2000, Marta Suplicy: "A senhora é uma petista! E não perdeu o jeito da calúnia e da mentira!". A frase foi gritada diante das câmeras, durante um debate. Doze anos depois, porém, Maluf não acha mais os petistas tão ruins assim. E tem até elogios de almanaque para vários deles. Sobre Lula, afirmou: "O Brasil deve muito a Lula, foi o presidente que ajudou as empresas, ajudou a gerar empregos, ajudou os pobres. Está entre os melhores presidentes da república que o Brasil já teve". E sobre a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), hoje vice na chapa de Haddad e que torceu o nariz para o apoio de Maluf, contemporizou: “Tenho muito respeito pela ex-prefeita Erundina. Ela foi uma boa prefeita, uma prefeita correta e decente”.
O presidente estadual do PP afirmou que para ele não não existe mais a divisão entre esquerda e direita. “Se você vai a Paris e pergunta se é esquerda ou direita, eles vão pensar que você está falando em sinal de trânsito. O que importa é um governo eficiente”.
O pré-candidato Fernando Haddad, entretanto, discordou da tese ideológica de Maluf. “Do meu ponto de vista existe sim direita e esquerda. Estamos fazendo um pacto pela cidade, não há correspondência entre todas as ideias que eu defendo na vida e o que o PP defende”, disse o petista. “Existem muitas divergências em vários campos, mas isso não pode nos impedir de buscar convergências com os partidos da base do governo federal.” O PP detém no governo Dilma o Ministério das Cidades.
Contorcionismos verbais à parte, as razões por trás do notável encontro desta tarde: o PP, de Maluf, dará à campanha de Haddad 1min35s de tempo na propaganda eleitoral televisiva. O PT terá agora 7min39s de propaganda gratuita - um minuto a mais que o tucano José Serra, seu principal adversário. O PP, além da secretaria dada a Maluf no Ministério das Cidades, ganha a liberdade de compor sua própria chapa de candidatos a vereador - algo que o PSDB lhe negava, por causa do acordo com o PSD para formar uma chapa única também nas eleições proporcionais.
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