sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O futuro do passado presente em Gal


 Na época do seu lançamento, no final do ano passado, “Recanto” provocou na crítica e em parte do público um olhar que pareceu impactar mais pela forma. Mesmo que não fosse algo exatamente inédito em sua trajetória, o álbum traz Gal cantando sobre bases eletrônicas, em arranjos que fazem referência do trip hop ao funk carioca. Mas não é apenas dessa casca curiosa - e fascinante- que “Recanto” é feito. Ele é, antes de tudo, um disco de canções, belíssimas, criadas e projetadas por Caetano Veloso para Gal. Assim como o show, que ela apresenta neste sábado (06), no Teatro Guararapes. Show este que, através de um repertório de sucessos e novidades, lança um olhar generoso sobre as fases mais brilhantes de sua carreira - da qual o presente faz parte. Sobre ele, alguns desses sentimentos imersos em notas eletrônicas, sua trajetória e amizade com Caetano, a cantora conversou, por e-mail, com a Folha.
A sua relação com Caetano sempre foi muito produtiva. Não é exagero dizer que ele foi seu melhor compositor e você sua melhor intérprete. Pensando nas canções de “Recanto” e na obra recente de Caetano, o que você pode dizer sobre a composição de Caetano? De que forma ela ainda a toca?Caetano é um dos compositores que mais gosto e concordo que compõe para mim como nenhum outro. As canções dele sempre me tocam. Ele é um dos meus preferidos.
E como é sua relação de amizade com Caetano para além da música? Vocês se falam com frequência? Trocam intimidades?Nossa relação é de amizade, confiança. Conversamos quando calha de conversarmos e, às vezes, nem precisamos falar muito.
Canções como “Recanto Escuro”, “Autotune Autoerótico” e “Tudo Dói”, em composição, arranjo e voz, já nasceram clássicas no seu “Recanto”. Como foi a abordagem de Caetano, no momento em que ele chegou com a ideia do disco para você? Se assustou com a ideia de um disco de “música eletrônica moderna”?Claro que não me assustei, pois convivi com o eletrônico durante bom tempo da minha carreira e sou aberta a coisas novas. Ele compôs o que quis, disse o que quis através das suas músicas.
De que forma você opinou nessa construção deste disco?Quando Caetano me convidou para este projeto já veio com a idéia toda pronta. Apenas contou-me suas ideias e começou a compor livremente. Isso bastou.
Você concorda quando a crítica diz que “Recanto” reposiciona sua carreira para um caminho de vanguarda? Pensando que a Tropicália foi o ponto inicial da sua carreira e entendendo a Tropicália como marco de uma revolução na música brasileira, como você encara a ideia de “vanguarda” atualmente?Concordo, sim. Mas eu sou um misto de bossa nova e tropicália. Esse disco refrescou a memória das pessoas e me colocou no lugar aonde devo estar. Eu adoro este disco.
Além do álbum, o show “Recanto” também é dirigido por Caetano. Quais elementos mais preciosos ele trouxe para você neste show?As canções, essa é a mais pre­ciosa contribuição. A dedi­cação dele, o carinho ao di­rigir o show. O próprio trabalho e todos os elementos que ali estão foram a guinada para a explosão de emoções que estavam acumuladas em mim.
O show acabou ganhando a inclusão de “Modinha para Gabriela” no roteiro. Certa vez, Jorge Amado disse que Gabriela poderia ter vários rostos e corpos, mas apenas uma voz: a sua. Qual é sua relação com essa música e o que a levou ao roteiro de “Recanto”?O fato de estar cantando “Gabriela” no show é porque as pessoas pediam muito, também por causa da novela. Falei com Caetano e Moreno e decidimos colocá-lá no roteiro. Essa música é linda. E me alegra ter ouvido de Jorge Amado essas palavras.
Sua produção sempre teve uma ligação forte com a música pernambucana através dos inúmeros frevos que você gravou. Poderia falar um pouco sobre a sua relação com esse gênero?A música brasileira é rica, diversificada em seus estilos e ritmos. Eu ouvi muito Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro através das rádios e acabei tendo alguma influência deles. Gosto muito de frevo e de forró. Inclusive gravei com Luiz Gozaga [o dueto se chama “Forró N° 1”, e está presente no disco “Sanfoneiro Macho”, de Gonzagão, lançado em 1985].
Há um fascínio grande da nova geração com a sua trajetória e com o mo­vimento tropicalista como um todo. Você sen­te isso? Como é sua relação com esse público?Sei disso e amo que esteja acontecendo isso. Esse disco atingiu a garotada e quero fazer shows em lugares específicos para eles. Fico feliz.
No ano que vem, o álbum “Índia” completa 40 anos. Este é o disco que muitos críticos apontam como seu melhor trabalho, ao lado de “Fatal - A Todo Vapor”. Como você analisa esses discos atualmente?Eu adoro esses discos, tanto o “Índia” quando o “Fatal”. Re-ouvi agora e a sensação foi boa. Continuam sendo álbuns corajosos, de vanguarda.
SERVIÇO:
Show “Recanto”, de Gal Costa
Sábado (06), às 21h
Teatro Guararapes
Ingressos: plateia: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia); balcão: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia), à venda na bilheteria do teatro, lojas Esposende dos shoppings Recife e Tacaruna e www.ingressorapido.com.br
Informações: 3182-8020
Fonte:  TALLES COLATINO, da Folha de Pernambuco




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