As dores não cessam. A sensação de impotência toma conta da família
da dona Maria Costa Lemos. Com cem anos de vida, a idosa está há mais de
15 dias internada na unidade de trauma do Hospital Otávio de Freitas
(HOF), no bairro de Tejipió, no Recife. A ida à unidade de saúde
aconteceu após uma queda dentro de casa. Com o fêmur fraturado, a idosa
aguarda procedimento cirúrgico para tentar ter a vida que tinha.
“Ela sofria de reumatismo, mas fazia tudo sozinha. Andava com o
auxílio de uma bengala, mas agora, só reclama das dores”, comentou
Jesilda de Lemos Silva, de 68 anos, filha de dona Maria. Ela, que também
é idosa, tem vivido em meio ao transtorno. “Eu já sou velha, é
complicado ficar nessa apreensão. Sem ter uma resposta sobre a minha mãe
e ainda vê-la sofrendo”. Assim como o caso de dona Maria, a Associação
de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps)
tem mais um montante de nomes com problemas semelhantes.
A lista não para de crescer, e a demora na realização de
procedimentos cirúrgicos no Otávio de Freitas é sempre o ponto em comum.
“Agora pretendemos fazer uma ação concentrada só com o HOF. Queremos a
lista de todos os pacientes que aguardam a cirurgia. Dessa forma, cada
um poderá entrar na justiça com a ação de dano moral e exigir do Estado
que pague por esse constrangimento”, afirmou a diretora-executiva da
Aduseps, Renê Patriota.
O taxista Marcelo José de Brito, 34, também vive o drama pela espera.
O pai dele, José Cândido de Brito, de 63 anos, foi o personagem
principal de uma liminar movida pela Aduseps contra o Estado. Ele sofre
de estenose de canal medular, uma doença que adquiriu após a hérnia de
disco, diminuindo e apertando o espaço para a medula e seus nervos. O
que causou muita dor e dificuldade para caminhar. O processo teve o
parecer de que José fosse operado em até 72h. O prazo foi extrapolado,
pois a decisão do juiz foi concedida no dia 17 de agosto desse ano. “Meu
pai já foi e voltou do hospital umas quatro vezes. Ele precisa dessa
cirurgia. Já não sei o que fazer”, desabafou Marcelo.
Antônio Fernando viu sua vida mudar no dia 3 de outubro de 2011, após
um acidente de moto. As marcas ficaram na perna esquerda. Na época, ele
foi operado e recebeu acompanhamento ambulatorial no HOF. “Em agosto
deste ano, um médico me internou dizendo que eu estava com uma infecção
séria e que corria o risco de perder a perna”. Desde então está
internado no setor de Trauma sem previsão de cirurgia.
Prioridade são os casos graves, diz SES
A direção do HOF, por meio da assessoria de Imprensa da Secretaria
Estadual de Saúde (SES), reconhece a grande demanda por cirurgias
ortopédicas na unidade, que realiza uma média de 400 procedimentos por
mês na especialidade. Os casos cirúrgicos são acompanhados pela equipe
médica do HOF, realizando os procedimentos com prioridade para os casos
mais graves.
Em relação aos pacientes citados pela reportagem da Folha, a direção
esclarece que a paciente Maria Costa Lemos passou por algumas
“intercorrências” clínicas e ainda não teve a liberação médica para a
cirurgia. Já o paciente Antônio Fernando Chagas está passando pelos
procedimentos pré-operatórios. Ele está sendo acompanhado por um clínico
e um ortopedista, mas aguarda o resultado de exames para ser liberado
para a cirurgia. Sobre o outro paciente, José Cândido de Brito, foi
explicado que o procedimento em questão é realizado apenas por um
especialista da unidade. Por conta da entrada de pacientes mais graves, o
paciente ainda não pode ser operado. A expectativa é que seja realizado
nos próximos dias.
Por fim, a SES informa que tem ampliado o número de leitos de
traumatologia. Em um ano, foram mais de cem novas vagas em Pernambuco. A
Saúde ainda reforçou o lançamento do concurso público para contratação
de novos profissionais. Traumatologia será a área com maior número de
vagas, totalizando 64. Paralelamente, a SES tem feito convênio com
unidades filantrópicas para prestar assistência em média complexidade
aos pacientes, desafogando as grandes emergências, priorizando assim, o
papel das unidades de alta complexidade em traumato-ortopedia.
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