quinta-feira, 1 de novembro de 2012

HOF atrasa cirurgias ortopédicas

As dores não cessam. A sensação de impotência toma conta da família da dona Maria Costa Lemos. Com cem anos de vida, a idosa está há mais de 15 dias internada na unidade de trauma do Hospital Otávio de Freitas (HOF), no bairro de Tejipió, no Recife. A ida à unidade de saúde aconteceu após uma queda dentro de casa. Com o fêmur fraturado, a idosa aguarda procedimento cirúrgico para tentar ter a vida que tinha.
“Ela sofria de reumatismo, mas fazia tudo sozinha. Andava com o auxílio de uma bengala, mas agora, só reclama das dores”, comentou Jesilda de Lemos Silva, de 68 anos, filha de dona Maria. Ela, que também é idosa, tem vivido em meio ao transtorno. “Eu já sou velha, é complicado ficar nessa apreensão. Sem ter uma resposta sobre a minha mãe e ainda vê-la sofrendo”. Assim como o caso de dona Maria, a Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps) tem mais um montante de nomes com problemas semelhantes.
A lista não para de crescer, e a demora na realização de procedimentos cirúrgicos no Otávio de Freitas é sempre o ponto em comum. “Agora pretendemos fazer uma ação concentrada só com o HOF. Queremos a lista de todos os pacientes que aguardam a cirurgia. Dessa forma, cada um poderá entrar na justiça com a ação de dano moral e exigir do Estado que pague por esse constrangimento”, afirmou a diretora-executiva da Aduseps, Renê Patriota.
O taxista Marcelo José de Brito, 34, também vive o drama pela espera. O pai dele, José Cândido de Brito, de 63 anos, foi o personagem principal de uma liminar movida pela Aduseps contra o Estado. Ele sofre de estenose de canal medular, uma doença que adquiriu após a hérnia de disco, diminuindo e apertando o espaço para a medula e seus nervos. O que causou muita dor e dificuldade para caminhar. O processo teve o parecer de que José fosse operado em até 72h. O prazo foi extrapolado, pois a decisão do juiz foi concedida no dia 17 de agosto desse ano. “Meu pai já foi e voltou do hospital umas quatro vezes. Ele precisa dessa cirurgia. Já não sei o que fazer”, desabafou Marcelo.
Antônio Fernando viu sua vida mudar no dia 3 de outubro de 2011, após um acidente de moto. As marcas ficaram na perna esquerda. Na época, ele foi operado e recebeu acompanhamento ambulatorial no HOF. “Em agosto deste ano, um médico me internou dizendo que eu estava com uma infecção séria e que corria o risco de perder a perna”. Desde então está internado no setor de Trauma sem previsão de cirurgia.
Prioridade são os casos graves, diz SES

A direção do HOF, por meio da assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (SES), reconhece a grande demanda por cirurgias ortopédicas na unidade, que realiza uma média de 400 procedimentos por mês na especialidade. Os casos cirúrgicos são acompanhados pela equipe médica do HOF, realizando os procedimentos com prioridade para os casos mais graves.
Em relação aos pacientes citados pela reportagem da Folha, a direção esclarece que a paciente Maria Costa Lemos passou por algumas “intercorrências” clínicas e ainda não teve a liberação médica para a cirurgia. Já o paciente Antônio Fernando Chagas está passando pelos procedimentos pré-operatórios. Ele está sendo acompanhado por um clínico e um ortopedista, mas aguarda o resultado de exames para ser liberado para a cirurgia. Sobre o outro paciente, José Cândido de Brito, foi explicado que o procedimento em questão é realizado apenas por um especialista da unidade. Por conta da entrada de pacientes mais graves, o paciente ainda não pode ser operado. A expectativa é que seja realizado nos próximos dias.
Por fim, a SES informa que tem ampliado o número de leitos de traumatologia. Em um ano, foram mais de cem novas vagas em Pernambuco. A Saúde ainda reforçou o lançamento do concurso público para contratação de novos profissionais. Traumatologia será a área com maior número de vagas, totalizando 64. Paralelamente, a SES tem feito convênio com unidades filantrópicas para prestar assistência em média complexidade aos pacientes, desafogando as grandes emergências, priorizando assim, o papel das unidades de alta complexidade em traumato-ortopedia.
 

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