Sabe aquela aula, em que o professor lê o longo trecho de um livro
num tom enfadonho distraindo a atenção dos alunos? Assim começa a
pretensiosa nova trilogia de Peter Jackson, “O Hobbit: Uma Jornada
Inesperada” (The Hobbit: An Unexpected Journey, EUA, 2012), que invade
os cinemas do Brasil a partir desta sexta-feira (14). São dez minutos,
contados no relógio, o tempo que leva para velho hobbit Bilbo (Ian Holm)
introduzir ao amigo Frodo (Eliajh Wood) a história que lhe aconteceu há
60 anos.
Mas isso não tem a menor importância e não irá espantar a multidão de
fãs que espera ansiosa para visualizar as aventuras que precedem a ação
mostrada nos três filmes de “O Senhor dos Aneis”, levados ao cinema
por Peter Jackson. A trilogia audiovisual surgiu entre 2001 e 2003 a
partir dos três livros de J. R. R. Tolkien lançados nos anos 1950.
Estes fãs devem concordar, entretanto, que, ao contrário do denso
romance original que gerou a primeira trilogia, e agregou com facilidade
novos fãs ao universo da Terra-Média, a base que estrutura o prelúdio
“The Hobbit” não tem estofo para segurar um longa-metragem de quase três
horas, quanto mais três filmes de nove horas - os dois próximos “The
Hobbit: The Desolation of Smaug” e “The Hobbit: There and Back Again” já
foram rodados e estão em pós-produção para lançamento em 2013 e 2014.
Dessa forma, a sinopse de todo o “The Hobbit” pode ser descrita numa
simples frase: 14 baixinhos e um bruxo vão enfrentar um dragão para
resgatar a montanha onde moravam. Acontece que neste primeiro “Uma
Jornada Inesperada” a luta contra o dragão Smaug nem chega a se
realizar. Temos de esperar dezembro de 2013.
O que temos aqui é apenas a convocação feita por por Gandalf (Ian
McKellen) para que Bilbo, 60 anos mais novo (o muito bom Martin
Freeman, da série “The Office”) aceite unir-se a missão dos 13 anões
na luta pela montanha. A sequência da convocação, na pequena casa de
Bilbao, é um exemplo da ideia de engabelamento pelo qual passa o
espectador. O que poderia ser bem resolvido cinematograficamente em
cinco minutos, dura aqui cerca de 15.
Até chegar lá ao seu destino, os aventureiros baixinhos lutam contra
orcs, trolls e goblins. Para quem não sabe, são todos monstros grandes
e feios que quando chateados (e eles sempre estão chateados) fazem
GRRUARR!!!. No caminho, o grupo ainda tem tempo de encontrar personagens
queridos dos fãs como Elrond (Hugo Weaven), Galadiel (Cate Blanchett) e
Saruman (acreditem, Christopher Lee, aos 1990 anos na ativa).
O grande momento do filme resume-se, no final das contas, ao encontro
de Bilbo com Gollum (Andy Serkis). O homenzinho magrelo e cavernoso,
com sua dúbia personalidade, é a criatura mais complexa de todo o
universo de Tolkien, ao menos do ponto de vista cinematográfico. Por
ele, “Uma Jornada Inesperada” mantém alguma dignidade, e mostra que a
renovação dos efeitos CGI podem servir para o bem do entretenimento. Mas
só graças ao precioso Gollum. Em tempo: a versão do filme com 48 frames
por segundo não foi mostrada à imprensa brasileira.
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