sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

De volta à Terra-Média

Sabe aquela aula, em que o professor lê o longo trecho de um livro num tom enfadonho distraindo a atenção dos alunos? Assim começa a pretensiosa nova trilogia de Peter Jackson, “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (The Hobbit: An Unexpected Journey, EUA, 2012), que invade os cinemas do Brasil a partir desta sexta-feira (14). São dez minutos, contados no relógio, o tempo que leva para velho hobbit Bilbo (Ian Holm) introduzir ao amigo Frodo (Eliajh Wood) a história que lhe aconteceu há 60 anos. 
Mas isso não tem a menor importância e não irá espantar a multidão de fãs que espera ansiosa para visualizar as aventuras que precedem a ação mos­trada nos três filmes de “O Senhor dos Aneis”, levados ao cinema por Pe­ter Jackson. A trilogia audiovisual surgiu entre 2001 e 2003 a partir dos três livros de J. R. R. Tolkien lançados nos anos 1950.
Estes fãs devem concordar, entretan­to, que, ao contrário do denso romance original que gerou a primeira trilogia, e agregou com facilidade novos fãs ao uni­verso da Terra-Média, a base que estrutura o prelúdio “The Hobbit” não tem estofo para segurar um longa-metragem de quase três horas, quanto mais três filmes de nove horas - os dois próximos “The Hobbit: The Desolation of Smaug” e “The Hobbit: There and Back Again” já foram rodados e estão em pós-produção para lançamento em 2013 e 2014.
Dessa forma, a sinopse de todo o “The Hobbit” pode ser descrita numa simples frase: 14 baixinhos e um bruxo vão enfrentar um dragão para resgatar a montanha onde moravam. Acontece que neste primeiro “Uma Jornada Inesperada” a luta contra o dragão Smaug nem chega a se realizar. Temos de esperar dezembro de 2013.
O que temos aqui é apenas a convocação feita por por Gandalf (Ian McKellen) para que Bilbo, 60 anos mais novo (o mui­to bom Martin Fre­eman, da série “The Office”) a­ceite unir-se a missão dos 13 anões na luta pela montanha. A sequência da convocação, na pequena casa de Bilbao, é um exemplo da ideia de engabelamento pe­lo qual passa o espectador. O que poderia ser bem resolvido cinematograficamente em cinco minutos, dura aqui cerca de 15.
Até chegar lá ao seu destino, os a­ventureiros baixinhos lutam contra orcs, trolls e goblins. Para quem não sa­be, são todos monstros grandes e feios que quando chateados (e eles sempre estão chateados) fazem GRRUARR!!!. No caminho, o grupo ainda tem tempo de encontrar personagens queridos dos fãs como Elrond (Hugo Weaven), Galadiel (Cate Blanchett) e Saruman (acreditem, Christopher Lee, aos 1990 anos na ativa).
O grande momento do filme resume-se, no final das contas, ao encontro de Bil­bo com Gollum (Andy Serkis). O homen­zinho magrelo e cavernoso, com sua dú­bia personalidade, é a criatura mais complexa de todo o universo de Tolkien, ao menos do ponto de vista cinematográfico. Por ele, “Uma Jornada Inesperada” mantém alguma dignidade, e mostra que a renovação dos efeitos CGI podem servir para o bem do entretenimento. Mas só graças ao precioso Gollum. Em tempo: a versão do filme com 48 frames por segundo não foi mostrada à imprensa brasileira.

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