segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Há 60 anos, o primeiro disco com selo Mocambo

No dia 18 de dezembro de 1954, os jornais pernambucanos estampavam, orgulhosamente, em suas páginas, a inauguração de uma empresa que seria de vital importância para a cultura local: a Fábrica de Discos Rozenblit: “Está montada na Estrada dos Remédios, ocupando ali uma das maiores áreas, apresenta-se modernamente equipada, com as maquinárias necessárias para uma indústria dessa ordem. Devendo-se considerar que a totalidade do seu maquinismo é o mais novo surgido nos Estados Unidos. Pode-se dizer que há poucos existentes na América do Sul", trecho da matéria do Jornal do Comercio sobre a inauguração. A Rozenblit, anunciava uma produção de 400 mil discos de 78 rotações e LP com a etiqueta Mocambo.
A empresa dirigida pelos irmãos Isaac, José e Luis Rozenblit, e Kurt Sonderman, começou a lançar discos no ano anterior, 1953. Em 2013, portanto, completam-se 60 anos do primeiro lançamento com o selo Mocambo (nome pelo qual ficaria conhecida a gravadora). Um 78 rotações (nº 15.000, matriz nº 500), com o frevo-de-rua Come e dorme, de Nelson Ferreira, numa face, e o frevo-canção Boneca, na outra , Este último interpretado por Claudionor Germano, com orquestra e coro dirigidos pelo maestro Nelson Ferreira. Ambas as faixas gravadas no estúdio da Rádio Clube de Pernambuco, na avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro: “Não tinha este negócio de cada um gravar sua parte. Era todo mundo no estúdio, na mesma hora. Errou começava tudo de novo. Quem me convidou para gravar foi Nelson Ferreira. Naquele tempo eu cantava música romântica. Sei que o disco chegou aqui num dia, no outro já tocava no rádio”, relembra Claudionor Germano, cuja carreira daria uma guinada de 180 graus a partir deste disco. A vida profissional dele esteve, de uma forma ou de outra, ligada a gravadora os irmãos Rozenblit, praticamente até que esta fechou as portas, em 1983.
Claudionor Germano da Hora, estava com seis anos de carreira, quando gravou Boneca. Já passara por um trio vocal, o Ases do Ritmo, E, 1948, já estava em carreira solo, como um dos mais requisitados cantores da época. A maioria dos “rivais” não teve o mesmo sucesso. Entre outros, Almir Távora, Paulo Mendes, Guilherme Neto, J.Rocha, que gravou um dos dois primeiros LPs da Rozenblit (o outro foi da cantora Carmem Déa): “Zé Rozenblit era um idealista. A loja que ele e os irmãos tinham na rua da Aurora, era muito moderna. Tinha cabinas individuais para os fregueses ouvirem os discos. Tinha uma cabina onde as pessoas podiam gravar a voz em acetatos. Foi um incentivador da nossa cultura. A Rozenblit tirou muita gente do anonimato, criou um mercado local”, lembra Claudionor, que no mesmo ano gravou mais pela Copacabana, o frevo-canção de História de pierrô, de Genival Macedo e Hilário Marcelino. Lado B, do 78RPM, que trazia no lado A Folias da madrugada, frevo-de-rua de Toscano Filho, com a Orquestra Paraguary.
Os Rozenblit, família judia de origem romena, eram, antes de tudo, comerciantes. O selo Mocambo (pelo qual a gravadora ficou conhecia no Nordeste)teve o nome escolhido num concurso realizado entre os clientes da Lojas do Bom Gosto (uma na rua da Palma, 320, e outra na rua Da Aurora, 77). Capibaribe foi o segundo nome mais sugerido para o selo. Na época, “mocambo” era uma palavra muito falada em Pernambucano, onde corria uma campanha para erradicar os barracos (mocambos), grande parte localizadas nas margens do rio. A Lojas do Bom Gosto passou a manter uma página inteira no Jornal do Commercio aos domingo, inteiramente dedicada aos títulos que vendia, enfatizando os ainda reduzido catálogo da Mocambo: “E já que falamos na etiqueta Mocambo, convém lembrar  aos bons amigos  do carnaval pernambucano, que quatro frevos serão lançados antes dos dias do frevo or Irmãos Rozenblit & Cia Ltda. Os compositores estão encontrando na marca  de discos pernambucanos, cuja fábrica já entrou em construção, o maior apoio à divulgação de seus êxitos (no JC do domingo, 4 de outubro de 1953).
Claudionor Germano virou o cantor preferido da Rozenblit a partir de 1957, quando lançou o frevo-canção Eu quero uma mulher (Fernando Castelão), lado B do frevo-de -rua, Praça do Diário, de Lourival Oliveira. A praxe era sempre o lado A ter um frevo-de.rua. Ainda em 1957, Claudionor Germano ocupa o lado B, com Frevo nº 3 do Recife (Antônio Maria), do disco que traz no lado A, Comendo fogo, de Levino Ferreira, com a Orquestra de Clube da Banda da Policia Militar de Pernambuco: “Em 1959, a Rozenblit quis homenagear Capiba, que completava 25 anos de sucesso como autor de frevos, e fui convidado para gravar um LP com músicas dele. Ele e Nelson Ferreira eram os inimigos cordiais. Então Nelson chegou para mim e disse: ‘Menino você vai gravar minhas músicas também’. Então naquele ano gravei dois LPs: Capiba 25 anos de frevo, e O que eu fiz e você gostou, com frevos de Nelson Ferreira. Até hoje são os discos de frevo mais vendidos em Pernambuco”, diz o cantor.
A partir deste dois álbuns, que tiveram uma sequência no ano seguinte, com O que faltou...e você pediu, com composições de Nelson Ferreira, e Carnaval começa com C de Capiba: “Era ainda em dois canais. Errou voltava tudo. Leonardo Dantas (o jornalista e historiador) diz que matei de primeira. Muitos anos depois reouvindo os discos, eu pensei e regravar com a qualidade técnica de hoje. Leonardo, quando comentei com ele, disse que eu nem pensasse numa coisa dessas, era como refazer uma obra de arte”, diz Claudionor Germano, que guarda com o maior zelo, o primeiro e histórico bolachão da Rozenblit.

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