As mortes ocorridas durante as manifestações que marcaram os dois anos da queda do presidente Hosni Mubarak, na sexta-feira, juntamente com os novos choques deste sábado, indicam que os conflitos e divisões da sociedade egípcia ainda representam uma extensa sombra sobre o futuro político desse país.
Em meio à escalada de tensões políticas, o anúncio de que 21 torcedores foram condenados à morte por um confronto em um estádio de futebol em fevereiro provocou protestos nas proximidades da prisão em que esses torcedores estavam detidos, em Port Said.
Logo nas primeiras horas deste sábado, militares foram enviados a Port Said para retomar o controle da situação, de acordo com a agência de notícias Reuters. E segundo autoridades locais, 26 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas nos confrontos dos manifestantes com forças de segurança egípcias.
Considerado o episódio mais violento da história do futebol egípcio, a briga no estádio de Port Said deixou 74 mortos e, na época, motivou uma série de protestos na qual mais 16 pessoas morreram.
Por isso, um dos receios do governo egípcio era que choques em Port Said ajudassem a impulsionar novas manifestações da oposição - que tem como uma de suas bandeiras a crítica à brutalidade da política egípcia.
Na sexta-feira, o número de mortos nos protestos opositores chegou a sete. Neste sábado, algumas das principais cidades egípcias acordaram sob fortes esquemas de segurança - entre elas Suez, onde os confrontos foram particularmente intensos.
O governo também resolveu reforçar o policiamento nos locais onde seria feito o velório dos corpos das vítimas, numa tentativa de evitar novas manifestações. E o presidente egípcio, Mohammed Morsi, fez um chamado à calma por meio de sua conta no Twitter, dizendo que a população deveria expressar suas opiniões de forma pacífica e aderir ao que ele chamou de "valores da revolução".
Protestos
Os protestos recentes são um indício de que, após dois anos da queda de Mubarak, o Egito ainda está longe de um cenário de estabilidade.
Segundo o correspondente da BBC no Cairo, Jon Leyne, nos últimos meses têm ocorrido numerosos ataques na região do Suez e do Delta do Nilo contra escritórios da Irmandade Muçulmana, principal força política do governo egípcio hoje.
"Há uma grande revolta, além da divisão ideológica entre islamistas e políticos seculares", diz Leyne. "Muitos egípcios estão frustrados que suas vidas não melhoraram desde a revolução (que derrubou Mubarak)."
Aliados de Morsi enfatizam que ele foi eleito democraticamente. Já os manifestantes pró-oposição acusam o presidente de trair a revolução.
Para eles, o atual governo seria "autocrático" e a nova Constituição não protegeria adequadamente a liberdade de expressão ou de religião.
Contenda política
As tensões começaram a se intensificar no país principalmente a partir de novembro, quando Morsi assinou um decreto impedindo que suas decisões fossem revogadas por qualquer autoridade - incluindo a Justiça.
O objetivo do presidente era acelerar a aprovação da nova Constituição, que começou a ser elaborada em março de 2012.
O processo de redação da nova Carta foi atrasado por uma decisão judicial que dissolveu a primeira Assembleia Constituinte, em meio a acusações de que ela estaria dominada pela Irmandade Muçulmana.
Em junho, os partidos políticos em princípio concordaram sobre a composição de uma nova Assembleia, mas políticos liberais e seculares continuaram a reclamar sobre a distribuição dos assentos e resolveram boicotar as sessões.
Livres de grandes resistências na Casa, constituintes pró-Morsi aprovaram um novo projeto de Constituição - ao qual se opõem os manifestantes que tomaram as ruas do Cairo e Suez na sexta-feira.
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