terça-feira, 8 de janeiro de 2013

“O Desejado - Rei D. Sebastião” abre programação do Janeiro de Grandes Espetáculos

O ano cênico em Pernambuco começa, oficialmente, com a realização do Janeiro de Grandes Espetáculos. O evento, que começa nesta terça-feira (08) e segue até o dia 27, chega à sua 19ª edição, mais uma vez, investindo em montar um panorama diversificado da cena local, nacional e internacional, e com uma novidade: a expansão das atividades do festival para Arcoverde. Os produtores esperam repetir o mesmo sucesso de “As três velhas”, com Maria Alice Vergueiro, com “O Desejado - Rei D. Sebastião”, uma co-produção Brasil e Portugual, que é apresentada nesta terça-feira (08) e quarta-feira (09), no Teatro Santa Isabel, às 20h30.
Na história da humanidade abundam casos de superstições nascidas em tempos de crise, ou melhor, da necessidade do homem em acreditar em uma intervenção de uma figura (em geral mística) capaz de resolver problemas aparentemente insolúveis. Entre os exemplos deste tipo de crença está o Sebastianismo, movimento que teve origem com o desaparecimento do rei de Portugal D. Sebastião, na África, em 1578 - com o sumiço do monarca, Portugal foi anexado à Espanha e passou por um período conturbado financeira e politicamente. O povo acreditava que ele voltaria para reclamar o trono e salvar o país.
A crença teve forte influência também no Brasil, em especial no Nordeste. E é a confluência entre a cultura ibérica e a nordestina o ponto de partida para o desenvolvimento do espetáculo “O Desejado - Rei D. Sebastião”, escrito e dirigido por Moncho Rodriguez.
A produção, uma parceria entre a APACEPE e o Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso (PT), nasceu do desejo do produtor Paulo de Castro, responsável pelo Janeiro de Grandes Espetáculos, de estreitar o intercâmbio entre os países. O processo, conta Moncho, foi feito a partir de provocações que ligassem esses elementos comuns entre as duas culturas. “Como experiência artística, foi um processo riquíssimo de fusão de linguagens, costumes, culturas e tradições. Imaginários que se cruzaram misturando-se na convivência diária onde os dois elencos, nordestinos e portugueses, acabaram por formar um só elenco unidos pela magia do teatro”, pontua.
Para o encenador, iniciativas como esta não podem acontecer de forma esporádica. “É pena que os governos centrais, os ministérios e as suas políticas culturais balofas não ofereçam mais apoios a iniciativas ‘privadas’ de projetos como estes. Se fazem de desatentos e muitas vezes em vez de facilitarem seu desenvolvimento complicam, pois pretendem ser eles, os protagonistas”, pontua.
À frente do Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso, espaço para o desenvolvimento da criação teatral, Moncho enfatiza a necessidade de fortalecimento de políticas que valorizem a cultura. “O conceito do Centro de Criatividade é de um espaço privilegiado para a criação teatral. Um projeto voltado para o desenvolvimento de um teatro como arte que emerge da tradição para a modernidade; no qual todos aqueles que dele participam procuram um encontro com linguagens que possam revelar uma arte com identidade própria. Aqui no Recife, este projeto mantém uma forte parceria com a APACEPE e juntos, queremos que ele possa ser aberto a todos aqueles interessados em promover experiências renovadoras das artes cénicas”, explica.

A reflexão por trás do riso, como enfatiza o diretor, a­caba se explicitando na própria temática do espetá­culo. A analogia entre a necessidade de esperança e salvação do século XVI e também a atual é imediata. “A analogia dos tempos atuais com o momento histórico do “Desejado...” seria melhor que não existis­se mas, infelizmente, como um ciclo perverso, o vol­tamos a viver. Os desalentos sociais vividos na Euro­pa assim como no Brasil, as corrupções políticas de mensalões e esvaziamento dos cofres públicos, o empobrecimento dos povos, os desempregos, a desu­manização da sociedade, as perdas de identidade, fazem com que todos estejam a espera da imagi­nária volta de um salvador, um D. Sebastião“, afirma.

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