terça-feira, 3 de abril de 2012

Menstruar é preciso?

Suspender a menstruação é uma decisão que está se tornando cada vez mais comum entre as mulheres. Ao mesmo tempo em que algumas não se incomodam com o ciclo menstrual, outras optam por suprimi-lo buscando mais conforto e qualidade de vida. O uso contínuo da pílula anticoncepcional tem sido uma das alternativas encontradas para inibir a menstruação. Porém, as vantagens e desvantagens desta decisão devem ser conhecidas e levadas em consideração.
Cólicas intensas, fortes sangramentos, tensão pré-menstrual (TPM) são os principais motivos dados pelas mulheres para parar de menstruar. Para elas, isto significa mais qualidade de vida. “Meu período menstrual era um transtorno. O fluxo era muito intenso e sintia muita cólica. Isto me atrapalhava nas minhas atividades e principalmente no meu trabalho”, diz Helena Passos, profissional de Marketing, que não vê nenhuma desvantagem no uso contínuo da pílula. Por outro lado, existem mulheres que já estão acostumadas com o seu ciclo menstrual. “Eu gosto do processo. Já estou acostumada a sentir cólica”, relata a advogada Cristal Bittencourt.
Além disso, existem mulheres que desejam suprimir a menstruação pelo simples conforto que isto lhes proporciona, se libertando assim de preocupações e limites que acompanham o sangramento. É o caso da estudante de Medicina, Mariana Matos, que opta parar de menstruar quando viaja. “Vou passar um tempo na Europa e não quero ter que me preocupar!”, diz.
Recomendações
Existem situações médicas nas quais a suspensão da menstruação é indicada, a exemplo de endometriose e certas doenças endócrinas. “A interrupção pode ser indicada para mulheres que têm endometriose, doença que pode incapacitá-las pela dor menstrual intensa que acarreta, ou que têm, por exemplo, a famosa síndrome dos ovários policísticos”, explica o ginecologista obstetra Dr. Hilton Pina. Nestes casos, Pina afirma ser indicado suprimir a menstruação. Entretanto, quando as mulheres não sofrem de nenhuma doença, a decisão cabe a ela, ressalta o médico.
Já é comprovado por pesquisas médicas que a pílula anticoncepcional pode contribuir para a redução ou supressão dos cânceres de ovário e de útero, segundo Pina. “Agora, alguns tipos de câncer são interrogáveis se a pílula poderia causá-los. O que se sabe hoje é que a pílula poderia acelerar o aparecimento de um câncer que já existe. Mas não que a pílula por si só seja um fator cancerígeno”, afirma.
Mitos
Além do câncer, outro mito relacionado ao uso prolongado da pílula é que esta causaria infertilidade nas mulheres. “Se sabe hoje que assim que a pílula é interrompida, a fertilidade retorna rapidamente. Tanto que mulheres que estão tomando a pílula de forma irregular podem engravidar”, diz o ginecologista Pina.

“Se sabe hoje que assim que a pílula é interrompida, a fertilidade retorna rapidamente”, diz o ginecologista Dr. Hilton Pina. Foto: Camila Queiroz
“Geralmente tem outros fatores relacionados. Com a modernidade, as mulheres estão tendo filhos mais tarde, estão usando a pílula por mais tempo, entrando em uma faixa etária que já apresenta uma fertilidade mais baixa”, explica a ginecologista obstetra, Dra. Marina Braga.
Algumas pessoas também pensam que menstruar é benéfico, pois limparia o sangue. Hilton Pina esclarece este mito: “O sangue menstrual é puramente local, não está circulando no organismo da mulher”. Segundo Braga, não há benefícios associados à menstruação.  “Menstruar significa você sangrar fisiologicamente quando você não está grávida. Não há nenhum benefício em menstruar”, explica.
Outro lado da moeda
Muitas mulheres desconhecem que o uso contínuo de pílula anticoncepcional pode interferir negativamente na libido. Assim como desconhecem as desvantagens que o uso de pílulas anticoncepcionais em geral pode causar. A doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ligia Gabrielli Fernandes, observa: “Não há diferença entre o uso interrupto e o uso contínuo no que diz respeito a todos os efeitos adversos, é a pílula em si.” Ligia lista alguns problemas que estariam associados à pílula anticoncepcional, como trombose – geralmente nos membros inferiores – embolia pulmonar, hipertensão, entre outros.

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