segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Eduardo: “Jarbas não fez ao PT 10% do que fez a mim”

Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S.Paulo, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, ressalta, mais uma vez, o desejo de trabalhar pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014. Contudo, o líder socialista colocou que seu partido tem “opinião” e “identidade própria”, além de a vontade de crescer. “É um direito do qual não abrimos mão”, crava Eduardo. Na conversa, o cacique do PSB compara as ações do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) – seu mais novo aliado – em seu favor com o do PT. “Jarbas não fez ao PT nacional, ao presidente Lula e à presidenta Dilma dez por cento do que fez a mim”. Confira:
Com a campanha, o senhor está convencido da impossibilidade de manter a aliança com o PT em Recife?
Com o PT dividido não tinha condição. Eu sempre dizia que a gente devia respeitar a precedência do PT para indicar o candidato, mas era fundamental que o PT construísse sua unidade. Falei como um mantra durante mais de ano. O que aconteceu ampliou os traumas internos, e a gente não podia ver a cidade passando por esse sentimento de descuido. A administração do atual prefeito foi extremamente atrapalhada por essas disputas, ele sofreu muito com isso. A disputa foi tão grave que deixou o prefeito fora da eleição, fez o deputado Maurício Rands, um quadro histórico do PT, renunciar ao mandato, deixar o partido, deixar nosso governo.
O afastamento do PT e do PSB se repetiu em outras capitais. Foi um efeito cascata?
Quem quiser contar uma história ligando todos os pontos talvez possa montar uma, duas, três, quatro histórias. Mas o fato é que eleição municipal envolve circunstâncias locais, muito próprias. Ela divide mais do que a conjuntura estadual e nacional. Há uma tendência natural a disputas mais acirradas. Os partidos querem formar suas bases, montar chapas de vereador, lançar um nome para eleições futuras. A história está cheia desses exemplos.
Ficam ressentimentos que podem se repetir em 2014?
Da nossa parte não. Em 2006 disputei eleição com Humberto (senador Humberto Costa, candidato do PT à prefeitura), e nem por isso deixamos de estar juntos no segundo turno, no governo, na chapa com Humberto candidato a senador em 2010. É próprio da disputa política. Nosso sentimento em relação a todos esses setores do PT é de muito respeito. Em cinco capitais nós apoiamos o PT, em duas o PT nos apoia. Temos que ter muito cuidado para não entrarmos no jogo de muitos que querem fazer da eleição municipal um veredito para nossa relação nas próximas décadas.
A aliança continua em 2014?
O papel que o PSB deve cumprir em 2014 é colocar a presidenta Dilma nas condições de fazer a disputa legítima pela sua reeleição. Agora, somos um partido que tem identidade, tem opinião, tem feito grandes governos. Queremos (fazer) crescer o partido, sim. É um direito do qual não abrimos mão.
O ex-presidente Lula planeja estar no Recife para fazer campanha para o candidato do PT. Isso pode acirrar a disputa?
O presidente Lula já está aqui fazendo campanha em um palanque muito mais poderoso que o tradicional, que é o da televisão. Encaramos a participação dele de maneira natural. Daqui a 30 ou 60 dias termina a eleição, e o Brasil continua precisando das ações dessas forças. A coligação de Geraldo tem 14 partidos, todos da base da presidente.
Em Belo Horizonte, há uma disputa muito séria entre PT e PSB, com ataques mútuos. O senhor credita isso ao fato de lá o PSB estar com o PSDB?
Eleição é sempre acirrada, nem sempre se disputa no campo da razão. Tem dose de emoção, às vezes maior do que deve. Cabe a quem tem responsabilidade, experiência, dosar a emoção e direcionar para as coisas boas na campanha. Fiz campanha desde muito cedo e você nunca vai me ver atacando um adversário. E já fui atacado de dar pena. Já participei de várias atividades de campanha, agora comecei a ir para a rua. Geraldo faz a campanha muito bem, trouxe a eleição a bom patamar antes do horário eleitoral. Agora a meta é chegar em primeiro lugar no primeiro turno. É segurar, ir para a rua.
Qual é o significado da sua reaproximação de Jarbas Vasconcelos, um opositor muito duro de Lula e Dilma?
Quero lembrar que o PMDB de Pernambuco e o conjunto liderado por Jarbas sempre fizeram parte da Frente Popular. Tivemos um afastamento em 1992, houve disputa muito dura. Jarbas não fez ao PT nacional, ao presidente Lula e à presidenta Dilma dez por cento do que fez a mim. O fato é que as pessoas no Recife entenderam perfeitamente essa decisão que Jarbas tomou como um reencontro dele com a velha tradição da Frente Popular.
E o ex-presidente Lula compreendeu?
Eu comuniquei ao presidente Lula que havia conversas, Jarbas me pediu para fazer a ponte para prestar solidariedade e votos de restabelecimento ao presidente Lula. Eu discordo da posição de Jarbas em relação ao presidente Lula e à presidenta Dilma, e ele sabe disso.
A aliança com Jarbas não é mais um motivo de ressentimento do PT em relação ao PSB?
Tem municípios onde o PMDB de Jarbas está com o PT e ninguém fala nada. Jarbas, quando apoia o PT em Paulista e em Abreu Lima, não é uma afronta a Lula. Quando apoia Geraldo é um problema?

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