A morte é um tema delicado em várias religiões, em diversas
sociedades e, claro, também nas redes sociais. São muitos os perfis
que, mesmo após o falecimento do proprietário, continuam ativos nos
sites. Estas páginas motivam os usuários a exercerem uma atividade
curiosa, uma espécie de memorial online com mensagens de saudades pela
perda da pessoa. Engana-se quem acha que essas ações surgiram junto com a
popularidade do Facebook. O comportamento “mórbido” é datado de outra
rede social.
Tudo começou com o esquecido Orkut. Como muitos não sabiam solicitar a
exclusão da conta do familiar que morreu, o perfil ficava ativo sendo
alvo de curiosos. Assim surgiu, em 2004, a comunidade “† PGM †”
(Profiles de Gente Morta). Hoje extinto, o grupo que já chegou a ter 80
mil membros ativos, era dedicado à pesquisa e compartilhamento de perfis
de pessoas que faleceram, como se fosse um cemitério virtual. Nos
tópicos, além da causa da morte, era possível encontrar informações
pessoais sobre o falecido e discussões filosóficas e religiosas sobre a
vida e a morte.
Não são raros os casos de perfis de “mortos” nas redes. Todo mundo
conhece alguém que faleceu e, poucos minutos depois, o perfil dela
recebeu dezenas de mensagens de amigos e familiares lamentando o
ocorrido. Pode-se observar que, mesmo muito tempo depois do acontecido,
usuários continuam a visitar estes perfis. Foi o que ocorreu com a
página do primo de Juliana Guimarães, estudante de 24 anos. “Ele faleceu
há dois anos. Como era uma pessoa muito popular, dezenas de recados
ficavam acumulados na sua timeline”, contou.
Para a estudante, esse comportamento acaba expondo o ente que se foi.
Quando percebeu esse fato ela pediu autorização dos tios para apagar a
página do primo na rede. “Não tenho nada contra quem prefere deixar o
perfil ativo, mas, sempre achei muito estranho o comportamento de
algumas pessoas que insistiam em publicar recados como se ele ainda
estivesse vivo”, explica.
Guimarães confessa que deixa suas senhas com alguém de sua confiança.
“Nunca se sabe sobre o dia de amanhã, se algo acontecer comigo quero
que apaguem logo meus perfis”, lembra.
Já para Marianne Barbosa, professora de 32 anos, permitir que a
página do ente querido fique ativa é uma maneira de lembrá-lo todos os
dias. A professora, que perdeu o irmão há um ano, faz questão de ler as
mensagens carinhosas e, quando a saudade aperta, olha a página dele. “É
uma outra maneira de eternizá-lo. Nossos pais queriam apagar a conta
logo quando o incidente aconteceu, mas acabamos encontramos conforto nas
mensagens de carinho que os amigos dele deixaram em seu perfil”,
comenta.
A melhor amiga do irmão de Marianne, a contadora Isabella Carvalho,
de 27 anos, concorda com a professora. “Às vezes bate uma saudade, vou
lá e deixo um recado. Claro que tenho a consciência que ele não poderá
ler, mas sinto uma espécie de alívio ao expressar esse sentimento”, diz.
Ela complementa contando que o seu amigo era uma pessoa muito alegre,
por isso frequentemente olha suas fotos que ainda estão hospedadas na
rede. “Posso ver o sorriso dele sempre que quiser, sei que outros amigos
ficam felizes por ter essa possibilidade também”, afirma.
De acordo com a psicóloga Sandra Sampaio, o vínculo virtual abre um
novo espaço para relembrar um amigo ou parente. “Trata-se apenas de uma
substituição de álbuns de fotos e cartas, por exemplo, passando a ser um
novo tipo de arquivo quando é preciso aplacar a saudade”, pontua. Ela
complementa explicando que além de uma homenagem, deixar a página do
falecido ativa possibilita às pessoas que eram do convívio dele
conversem entre si. “Existe essa função social também. Um perfil online
deste tipo permite que a rede de amigos da pessoa continue a trocar
experiências vivenciadas com ela”, finaliza.
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