Governador do Sergipe por três mandatos, ex-ministro do Interior do governo José Sarney (PMDB-MA), João Alves (DEM) assumiu este ano a Prefeitura de Aracaju pela segunda vez, 38 anos depois da primeira gestão, com a qual inaugurou sua vida pública. Aos 71 anos, João Alves venceu a disputa ainda no primeiro turno com 52,72% dos votos válidos, contra 37,62% de Valadares Filho (PSB).
No Recife para prestigiar a posse da nova diretoria do Centro de Estudos do Nordeste (Cenor) - à frente o engenheiro Sebastião Barreto Campello -, ele falou ontem ao JC sobre os desafios iniciais na prefeitura, deu sua opinião sobre o futuro do DEM, partido do qual é membro-fundador, e revelou a torcida por uma aliança entre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) - dois presidenciáveis - na disputa presidencial de 2014.
JORNAL DO COMMERCIO - O senhor assumiu a Prefeitura após um processo de troca de grupos políticos. Em que situação o senhor recebeu o Executivo?
JOÃO ALVES - A minha vida pública é interessante porque sempre passo quatro anos no poder e quatro anos no ostracismo. Isso porque eu sempre fico até o fim da minha gestão, e como só exerci cargo executivo até hoje, eu não tenho condições de me candidatar no fim do mandato e passo depois quatro anos no ostracismo. A Prefeitura está em uma situação difícil, realmente existe um débito muito grande. Mas eu não gosto de falar nisso, gosto de falar de coisas boas. Eu posso falar que mesmo a Prefeitura numa situação muito difícil, eu acho que a gente deve raciocinar sempre a médio e longo prazos. É verdade que a curto prazo estamos tendo dificuldades, mas a médio e longo prazos tenho muita confiança que vamos virar o jogo e fazer tudo aquilo que apresentei como propostas na campanha. Estou convencido desde o começo, desde que eu peguei o timão, que nós vamos cumprir todo o plano de governo.
JC - Qual será a sua marca, o que fará para diferenciar da gestão anterior
JOÃO ALVES - Eu não quero nem fazer comparações. Eu quero dizer o seguinte: hoje o maior desafio que temos - e é uma reclamação unânime da população - é a saúde. A saúde pública está desmoronada. São pessoas morrendo por falta de exames e até por falta de atendimento. No governo do Estado, nos três governos nossos, fizemos um plano que foi de autoria de minha esposa e foi escolhido em nível internacional, segundo representantes da OMS e de 144 países, como o melhor projeto de prevenção de doenças do mundo em desenvolvimento. Era chamado Pró-mulher e Pró-Família. Eu não sou médico, sou engenheiro, mas acho que a melhor medicina não é a curativa, é a preventiva. Então nós elegemos como ponto essencial a gente investir em saúde pública. O outro problema, entre tantos que temos, é o da qualidade de ensino. Aracaju, hoje, segundo o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), é a pior das capitais brasileiras e a nossa meta é colocar como o melhor IDEB do Norte e Nordeste. E é uma meta com os pés no chão porque já fiz isso como governador. Não é fácil, mas podemos.
JC - Após as eleições municipais, lideranças do DEM passaram a defender mudanças profundas no partido, incluindo até a fusão com outras legendas. Qual rumo o senhor defende?
JOÃO ALVES - Hoje eu posso te responder isso com precisão. Se você me fizesse essa pergunta há um mês, eu não teria como responder com toda segurança. Mas hoje eu posso lhe dizer que a cúpula do DEM se reuniu, há três semanas, na Bahia, para discutir os rumos a serem tomados pelo partido. Nós fomos feridos duramente com a traição que nós recebemos, inclusive pelo presidente do partido à época, que foi (o ex-senador de Santa Catarina) Jorge Bornhausen. Ele se juntou com o (Gilberto) Kassab e criaram o PSD a partir, basicamente, do Democratas. Napoleão Bonaparte dizia, grande estrategista que foi, que preferiria enfrentar mil inimigos lá fora, no campo de batalha, do que um inimigo dentro de casa. Então, a gente tinha um cenário em que o próprio presidente nos traiu. Com isso nós perdemos muitos parlamentares e evidentemente que fragilizou, mas nós resistimos. E num trabalho de pesquisa in loco, nós estamos conscientes e convencidos, de forma pragmática, que teremos condições de aumentar muito o número de parlamentares. O Democratas, a bem da verdade, não tem ainda condições de ter um candidato a presidente da República. Temos que ir por metas e não é nossa meta agora ter um candidato a presidente. Nós vamos aumentar a bancada, que sempre foi nossa força. Na Câmara e no Senado. E nós estamos convencidos que vamos aumentar substancialmente nossa bancada, recuperando em muito as perdas que tivemos. Em função de toda essa análise, que não é uma análise de achismo, é de pesquisa in loco, em cada Estado. O partido me surpreendeu, mas foi a posição unânime que nós não deveríamos nos fundir. O presidente Zé Agripino (RN), que é um excelente presidente, recebeu a procuração de todos os integrantes do diretório para negociar livremente, ter ampla liberdade, para estudar quais são os melhores caminhos junto aos partidos que ele entender que são os mais afinados com o nosso ideário. Porque o Democratas é o único partido hoje do País, junto do PSOL, que são oposição mesmo. O PSDB é oposição, mas é uma oposição, digamos assim, móvel (risos). Então o DEM decidiu nesse sentido. Nós estamos abertos para fazer composição, estamos livres para discutir.
JC - O DEM, quando ainda era PFL, já foi a principal força política do Nordeste. O senhor acha que pode voltar a ter esse papel de protagonismo?
JOÃO ALVES - Pensar em política a médio e longo prazos é futurismo. Existe um ditado em política que diz que uma noite entre dois dias faz muita diferença. Dentro do DEM, temos a certeza que vamos crescer bem no Nordeste. Agora são projeções, não posso dizer que vai voltar a ser o que foi já agora em 2014. Mas vamos ter um bom crescimento na bancada federal. Para falar em quantidade, eu posso usar os dados da pessoa que correu todo o Brasil pesquisando isso, que foi o presidente Zé Agripino. Não posso falar Estado por Estado, mas na projeção dele vamos passar dos 27 deputados (federais) para 40 já em 2014. E eu acho essa projeção conservadora.
JC - Nesse processo de fragilização do DEM, que culminou com a criação do PSD, já havia um distanciamento do partido com a população. Como recuperar os eleitores perdidos
JOÃO ALVES - Primeiro, esse negócio de mudar de nome foi complicado. Sempre fui contra. Para mim é PFL e até hoje chamo de PFL. Acho que já foi um trabalho do Bornhausen para enfraquecer o partido e depois negociar. O PFL foi fundado em uma circunstância muito difícil e até hoje não recebe o devido reconhecimento na história, principalmente por parte da imprensa do Sul. O PFL sempre foi apresentado como a continuidade da Arena, como continuidade do regime militar. Mas na verdade o PFL nasceu de uma articulação de governadores do Nordeste que resolveram apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (1984) e fomos decisivos, inclusive para convecê-lo a se candidatar. Se não fosse nossa articulação o presidente poderia ter sido Paulo Maluf, que seria, aí sim, a continuidade da ditadura. Precisamos contar melhor essa história. Não é culpa só da imprensa, precisamos divulgar isso, nos mostrar como somos: um partido coerente, que se manteve a seus princípios e continua votando sempre na oposição.
JC - E no cenário eleitoral para 2014, como o senhor avalia que o DEM deveria se movimentar com os atuais pré-candidatos.
JOÃO ALVES - Eu vejo hoje dois nomes importantes da oposição. Evidentemente, temos a presidente Dilma (PT), que tenho muito respeito por ela, tenho um respeito pessoal, um relacionamento excelente com ela. Acho Dilma uma técnica de muito valor e provavelmente será ela (a candidata do PT), embora o Lula esteja botando a cara aí para fora. E eu diria que da oposição nós temos dois nomes, hoje, que são fortes para serem candidatos. Um é o Aécio Neves (PSDB-MG) e o outro é o governador Eduardo Campos (PSB-PE). Eu acho que esses são os dois nomes que realmente têm potencial.
JC - O governador Eduardo Campos poderia ser candidato de oposição?
JOÃO ALVES - Sim, estou falando como candidato de oposição. Agora eu não tenho nenhuma autoridade para dizer que Eduardo vai ser de oposição. Acredito que ambos têm um grande potencial. O sonho dourado da oposição seria um entendimento entre os dois. Esse é o sonho dourado e eu tenho o privilégio de ser amigo dos dois.
Fonte: Otávio Batista JC
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