O cacau, original da Amazônia e que prosperou em outras terras brasileiras, foi reintroduzido na região amazônica por agricultores interessados em melhorar sua renda e reflorestar áreas devastadas.
A planta que dá origem ao fruto, matéria-prima do chocolate, cresce com facilidade na floresta e gera um alto lucro financeiro, motivo pelo qual se transformou em alternativa para os produtores que antes destruíam a Amazônia para aumentar os pastos para a criação de gado.
“Vimos que a pecuária não era viável porque tínhamos que queimar mais floresta para manter a produção. O cacau nos oferece hoje uma renda maior que o gado”, disse Altamiro Pereira Lorenzo, que há dez anos semeou 3 mil plantas de cacau em sua propriedade de 62 hectares no município de São Félix do Xingu, estado do Pará.
A substituição de gramados por cacau foi rápida em São Félix, que além de ter o maior rebanho bovino do país, com dois milhões de cabeças de gado, é considerado o maior destruidor da Amazônia por ter devastado 10.110 km² de floresta nos últimos dez anos.
A produção do fruto na cidade passou de 350 toneladas em 2005 para 1.500 toneladas em 2010, segundo dados oficiais. O fato faz do município como o segundo maior produtor do país.
No bom caminho – Outros municípios seguiram o mesmo caminho e o Pará se consolidou como um dos grandes produtores com uma colheita que no ano passado foi de 63.739 toneladas, equivalente a 25,7% do total nacional. Em primeiro lugar se mantém a Bahia, estado do nordeste, com 154.634 toneladas (62,3% da produção nacional).
Além de ser uma planta nativa, o cacau cresce na sombra, motivo pelo qual os agricultores o semeiam no meio de árvores típicas da Amazônia, como o mogno, o que garante a preservação da floresta.
“As condições de solo e clima na Amazônia são apropriadas para o cacau. Os estudos indicam que os cultivos mais próximos da linha do Equador produzem o cacau com as características mais apreciadas pela indústria”, diz um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), uma organização que lidera projetos de desenvolvimento sustentável na região.
O Imazon iniciou um projeto para certificar a produção sustentável de cacau dos associados da Cooperativa Alternativa dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos de São Félix (Cappru).
“A Amazônia produz basicamente matérias-primas da floresta. Ter em São Félix uma das mais organizadas cooperativas de produtores de cacau (Cappru) nos levou a pensar um projeto para melhorar a produção e agregar valor”, explicou Mireya Sandrini, diretora do Fundo Vale, entidade patrocinada por empresas como a mineradora Vale e que financia o projeto do Imazon.
Produtividade – Segundo o presidente da Cappru, Iron Eterno de Faria, a produção da cooperativa passou de 400 a 940 toneladas entre 1997 e 2011, e quase toda esta quantidade é vendida à multinacional Delfi.
Para a Cappru, a maior vantagem do cacau da Amazônia é seu baixo custo de produção, já que não se gasta nada em adubos nem produtos químicos para atacar pragas como a ‘vassoura de bruxa’, que dizimou as plantações da Bahia. No entanto, o cacau atrai os macacos, que chegam a comer a metade da produção em alguns locais.
No início, os produtores espantavam os animais a tiros, mas um agricultor especialista ensinou outra técnica: esfregar algo picante nos frutos ao alcance dos macacos. “Eles nunca mais aparecem”, diz Faria.
Segundo Francisco Fonseca, coordenador de produção sustentável da organização The Nature Conservancy (TNC) na Amazônia, em São Félix podem ser plantados até 50 mil hectares com cacau. “O limite não é a área, mas a quantidade de sementes”, diz Fonseca, para explicar que no país só estão disponíveis 1,5 milhão de sementes de qualidade e resistentes a pragas.
Ele acrescenta que a multinacional Cargill, maior compradora de cacau no Brasil, está interessada em oferecer financiamento e assistência técnica aos agricultores de São Félix em troca que a produção seja vendida exclusivamente a ela. (
Nenhum comentário:
Postar um comentário