quinta-feira, 24 de maio de 2012

Suposto espião de Cachoeira pode repetir estratégia e silenciar

O sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, será ouvido nesta quinta-feira pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, no Congresso Nacional. Ele é suspeito de ser o espião e um dos principais operadores do grupo montado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás.
 Assim como ocorreu com o depoimento de Cachoeira na terça-feira, Dadá também poderá ficar em silêncio diante dos questionamentos dos parlamentares. Para evitar esse tipo de situação, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), informou que conversará com os líderes para montar uma estratégia "que possa ser mais adequada e produtiva". Uma possibilidade seria transformar a reunião em administrativa para votar novos pedidos de quebra de sigilo, o que só estava agendado para o dia 5 de junho, segundo informações da Agência Senado. "A transferência do sigilo bancário, fiscal e telefônico de todos os envolvidos talvez seja o grande passo da CPI", disse o senador.
Além de Dadá, a comissão ouve outras duas pessoas nesta quinta-feira: Jairo Martins de Souza, também apontado como espião, e Wladimir Henrique Garce, ex-vereador que facilitaria os contatos do grupo com agentes públicos, como policiais civis e militares de Goiás. O advogado dos três convocados, Leonardo Picoli Gagno, encaminhou à CPI pedido para adiar seus depoimentos por pelo menos três semanas.
Assim como fez a defesa de Cachoeira, Gagno alega que não houve tempo hábil para analisar as mais de 20 mil páginas dos autos. Ele também quer mais cópias dos processos para que os defensores possam manusear o conteúdo no escritório. Outra questão levantada pelo advogado é se seus clientes são investigados ou testemunhas. Conforme Gagno, como acusados, os três terão direito de ficar em silêncio para não se incriminar.
Os depoimentos à CPI começaram dia 8, com o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza, que confirmou o envolvimento de parlamentares com a organização criminosa comandada por Cachoeira. A partir da próxima semana, a comissão realizará atividades em todas as terças, quartas e quintas-feiras.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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