sábado, 30 de junho de 2012

Alemanha x Itália


Caro leitor, apesar do título, este comentário não tem nada a ver com o jogo semi-final da Eurocopa de futebol na quinta-feira passada na Polônia (cujo resultado obviamente já é conhecido), mas sim com as expectativas em torno do encontro dos líderes europeus neste final de semana, na Bélgica, em mais uma tentativa de apontar saídas para a questão das dívidas soberanas dos países em crise, em destaque Itália e Espanha. 

O problema é que o confronto das posições do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e da chanceler alemã Angela Merkel se ampliou durante a semana com a divergência em torno da criação dos eurobônus para socorrer os países endividados: Monti quer um tratamento diferenciado para a Itália, que está tentando fazer “o dever de casa” e precisa que o fundo de socorro europeu de 500 bilhões de euros compre títulos de sua dívida para enfrentar a pressão dos mercados financeiros. 
Antes mesmo de começar a “reunião de cúpula”, Merkel mandou dizer que a Alemanha não garantirá a emissão de eurobônus porque a constituição de seu país não permite avalizar o endividamento alheio, o que torna impossível o socorro aos parceiros da eurozona. Dito isso, avisou que iria “fazer uma pausa” e assistir à semifinal da Eurocopa, para torcer contra a Itália, obviamente...

Não temos ainda a sequência da reunião em Bruxelas, mas Mário Monti já advertiu que o apoio será decisivo para a sustentação de seu governo e que a recusa em acudir a Itália terá consequências pesadas para seu país e poderá dar um “empurrão a mais” para o desastre europeu. Ele acredita que fez o melhor para evitá-lo. 

As famílias italianas têm bons ativos não-financeiros e não viveram um “boom”

 imobiliário. A situação do setor privado é bem melhor do que a maioria dos países da Eurolândia, mas, infelizmente, a Dívida Pública Bruta/PIB do País é da ordem de 120%, com 50% nas mãos de não-residentes. O problema é que com a redução do crescimento e o aumento da taxa de juros de seus papéis, a Itália despende 4,5% do PIB anual apenas para servi-la. Reduzir a relação dívida/PIB é fundamental para dar credibilidade à política econômica e facilitar seu financiamento.

O esforço de Monti para a volta ao equilíbrio fiscal se apoiou num aumento de impostos (mais ou menos 2/3) e um corte de despesas (1/3). Agora, o governo está num processo de “mineração” constrangendo moralmente os empresários, os banqueiros e os sindicatos para devolverem seus “privilégios”. Para mostrar a seriedade de seus propósitos, ele, um católico fervoroso, chegou a propor a eliminação da isenção de impostos sobre a Igreja em seus empreendimentos comerciais. Isso renderá 600 milhões de euros, apenas 0,02% do pacote de economia de 30 bilhões de euros, mas tem imensa simbologia! E foi preciso muita coragem.

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