terça-feira, 3 de julho de 2012

Bois de canudinho

Adalton Januario e Andréia Martins se conheceram em um instituto para deficientes visuais em Uberaba (MG). Eles têm uma doença hereditária chamada retinite pigmentosa, que deixa resíduos visuais na retina, impedindo que os pacientes enxerguem na maioria dos ambientes. Mas o casal quebrou a barreira imposta por essa doença degenerativa e encontrou no artesanato uma forma de terapia ocupacional. “Fazemos artesanato para ocupar o nosso tempo ocioso, e de quebra, temos uma renda extra”, conta Adalton.

Em 2005, Andréia foi convidada para dar um curso no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), sobre a técnica de fazer cestas com canudinhos de revistas e de jornais. Ela, então, pediu para que Adalton a ajudasse com o material. Foi quando seu marido percebeu que os canudinhos mais finos poderiam ser usados para criar miniaturas de animais.
O burro foi o primeiro animal que Adalton tentou construir. “Minha inspiração foi os burros que meu pai usava para transportar milho e café”, lembra Adalton, que ainda tem memória visual de quando enxergava. Foram muitas tentativas até chegar à perfeição. Hoje, a “fazenda de canudos” já tem bois e até girafas. “No começo, as girafas pareciam cavalos de pescoço grande”, conta Adalton.

Durante as feiras do agronegócio – onde o casal vende o artesanato – Adalton e Andréia aproveitam para conhecer melhor as raças de bois, touros e vacas. Por meio do tato, eles conseguem aperfeiçoar os detalhes das miniaturas. “Nós tocamos nos chifres, na pele e nas orelhas. Também conversamos com os pecuaristas sobre os detalhes do animal”, explica Andréia, que era desenhista antes de perder a visão. Para fazer as girafas, foi preciso estudar miniaturas de plástico do animal.

Ela e o marido trabalham em conjunto: Adalton constrói a estrutura dos animais, com folhas de jornal, e Andréia faz o acabamento, como os músculos e as curvas. Ela explica que são usadas folhas de revista para os detalhes porque elas são mais resistentes e coloridas.

Na 18a Feira Internacional da Cadeia Produtiva de Carne (Feicorte), que aconteceu no mês de junho em São Paulo (SP), os artesãos venderam cerca de cinquenta peças. Andréia garante que o artesanato é um sucesso nesses encontros, onde há muitos estrangeiros que são atraídos pela peculiaridade dos produtos, que variam entre R$ 28 e R$ 180. Para conseguir montar esta quantidade de miniaturas é preciso quase um ano de trabalho. Adalton explica que uma única peça passa por suas mãos entre cinco ou seis vezes.

Hoje, o casal vive em Uberlândia (MG), onde a família de Andréia ajuda na criação do pequeno Rafael, de 1 ano e 3 meses. Os artesãos já fazem encomendas para lojistas de vários locais do Brasil. Eles também vendem peças via internet (pelo e-mail adalton_andreia@hotmail.com). O cliente pode enviar um e-mail pedindo fotos dos modelos, que são mandados pelos Correios.

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