Segundo o dicionário de língua portuguesa Aurélio, “alimentar-se é nada mais que nutrir-se, sustentar-se”, mas trazendo ao âmbito cultural, a alimentação é considerada um ato de sociabilidade que envolve uma série de rituais incorporados por tradição, costumes, oferta de ingredientes, entre outras questões. Ou seja, o que começou como uma necessidade humana para sobreviver, convertendo substâncias em energia para o corpo, tornou-se também um prazer, envolto de características outras impregnadas na sociedade.
Com base nos alimentos disponíveis, existe uma série de escolhas que podemos fazer na nossa dieta, mas algumas pessoas, não satisfeitas com a forma de relacionar-se com a comida, estão buscando alternativas ao que é tido como um padrão. Aspectos ambientais, sustentáveis, éticos - principalmente com relação aos animais - a industrialização, o distanciamento entre o ser humano e o alimento, a proliferação irreversível, ao que parece, dos estabelecimentos de fast food, são fatores que nos levam a pensar sobre a alimentação diária - em casa e fora dela.
A partir dessa reflexão, começou-se a criar e a divulgar alternativas além do que é apresentado majoritariamente na mesa nossa de cada dia, em que carnes animais são quase unânimes pelo seu consumo regular: vegetarianismo e suas vertentes, veganismo, crudismo (ou crudicismo), frugivorismo, macrobiótica e Slow Food, por exemplo, são possibilidades para quem busca uma dieta provida de outras características nutricionais - entendendo dieta como o hábito alimentar individual e não como uma forma restritiva para perder peso ou estabilizar níveis de colesterol e glicemia.
Em pesquisa divulgada no início deste mês, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mostrou que 15,2 milhões de pessoas declararam ser vegetarianas no Brasil, o que equivale a 8% da população do País. Os dados ainda indicam que 30% dela está diminuindo o consumo dos alimentos de origem animal e tentando aderir ao vegetarianismo. Para o diretor da Nutriveg Consultoria em Nutrição Vegetariana, George Guimarães, a adesão ao regime está diretamente ligada ao acesso das pessoas à informação. “Hoje, existe uma consciência maior em relação à realidade dos animais e ao meio ambiente. Os vídeos que circulam na Internet sobre o tema, além da própria saúde do indivíduo, são motivos pelos quais as pessoas têm procurado uma alternativa”, explica.
É preciso mudar
Com 38 anos e vegetariano há mais de 30, George conta que, ainda criança, optou por não comer carnes quando percebeu que os bichos eram mortos para tal produto chegar à mesa dele. Depois de pesquisar o tema, aos 20, decidiu excluir todos os produtos derivados (o que seria chamado de vegetarianismo estrito) e adotou o veganismo, que vai além da alimentação vegetariana estrita, excluindo também o couro, lã e qualquer outro produto que venha dos animais.
No vegetarianismo, encontramos algumas variações, como ovolactovegetarianismo ou, apenas, lacto ou ovovegetarismo, e o vegetarianismo semiestrito. Mas, para o especialista, são pessoas que “ficaram no meio do caminho” que começam a trabalhar a ideia e, aos poucos, vão deixando os derivados. “O objetivo é o veganismo porque a filosofia que diz para não comer carne é a mesma que justifica deixar os outros produtos de origem animal”, detalha.
Ainda dentro da ideia vegetariana, só que ainda mais restrito, o crudicismo ou crudivorismo é caracterizado pela alimentação apenas com frutas, vegetais, hortaliças, castanhas, grãos e sementes germinadas, consumidos absolutamente crus, para que não percam as vitaminas, minerais e enzimas essenciais. Em um preparo crudivorista, o ingrediente nunca é aquecido acima de 42º C. A bancária Gorette Oliveira aderiu ao crudismo em 2000, depois de ser vegetariana convicta por oito anos. A sua mudança de comportamento alimentar se deu, diferentemente de George, por um estímulo familiar, pois surgiu quando o filho desenvolveu alergia à proteína animal.
“Ele precisou para sobreviver, eu me apaixonei e escolhi para minha vida”, afirma. Ela, que continuou com as pesquisas sobre comida, depois de adotar o crudismo por quatro anos, mudou a abordagem para frugívora, deixando de lado até os grãos. “Nós descendemos dos primatas, não temos aparelho digestivo especial, como as galinhas. Nessa dieta, o teor de gordura é baxíssimo e a qualidade de vida é outra. Eu sou o que como, sou mais jovem e mais feliz por conta da minha opção. Tenho 51 anos e não utilizo nenhum tipo de medicamento. Além da saúde, tenho minha consciência tranquila com o meio ambiente, pois o lixo que produzo é limpo”, defende com entusiasmo. Mas, se por um lado, a saúde vai de vento em popa com uma alimentação natural, bom destacar também que não é tão simples seguir uma dieta desse tipo. “No convívio social, se vou a restaurantes com alguém, fico apenas nas saladas e, se tem alguma festa, levo minha comida. É sempre assim, já estou acostumada”, comenta.
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