segunda-feira, 2 de setembro de 2013

EUA investem R$ 126 bilhões para espionar Dilma e outros presidentes. Brasil cobra explicação


Três dias após rejeitar a proposta brasileira de um acordo bilateral para atividades de espionagem, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil será convocada para prestar esclarecimentos sobre os motivos que levam o país a investir 52,6 bilhões de dólares (R$ 126 bilhões) para espionar oito países, em especial os presidentes de México, Turquia e Brasil. Em entrevista à Rede Globo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso afirma que também será exigido formalmente que os Estados Unidos justifiquem suas atividades quanto à presidenta Dilma Rousseff e seus assessores, que tiveram ligações, e-mails e computadores hackeados pelos espiões americanos. O ministro acrescenta ainda que após reunião com a Presidência, neste domingo (1), o Brasil deve procurar órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) para que a espionagem norte-americana seja investigada.

Em documentos da Agência Nacional de Segurança americana (NSA), divulgados pelo ex-agente da Cia, Edward Snowden, pelo jornalista britânico Glenn Greenwald, há o chamado "Risco para a estabilidade regional", em que se questiona, por exemplo, se Brasil e Turquia seriam "amigos", "inimigos" ou "problemas". A papelada inclui uma relação de assessores diretamente ligados à Dilma e terceiros que com eles entraram em contato, mas os nomes foram apagados antes da divulgação. No entanto, é possível encontrar trechos de relatórios que falam que houve "sucesso" na operação. No caso do México, a espionagem fica ainda mais evidente, quando trechos de conversas do presidente Peña Nieto apontam nomes de ministros que só tomariam posse dos cargos seis meses depois.

Segundo a reportagem, Snowden se disse preocupado com a privacidade dos cidadãos. "Não apenas a privacidade dos norte-americanos importam, mas também a de estrangeiros. Os brasileiros também têm direito à privacidade", teria dito. Para o especialista em espionagem James Bramford, a questão vai além do terrorismo e oferece vantagens competitivas quanto a acordos comerciais e no que diz respeito à competição industrial. "É como um jogo de pôker em que se sabe, antes, as cartas que todos os jogadores estão segurando", compara. Em certo ponto dos documentos vazados, há o indicativo que esta seria a intenção dos Estados Unidos: "graças aos mais de 100 relatórios, pudemos instruir bem o presidente Obama quanto a questões delicadas antes de reuniões internacionais importantes", relatava um dos balanços de operação.

Na última quinta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve numa visita de dois dias a Washington para reunião com o procurador-geral dos EUA, Eric Holden, com a assessora presidencial para Assuntos de Contraterrorismo, Lisa Monaco, e com o vice-presidente, Joe Biden. "Manifestamos o desacordo brasileiro (...) em relação ao conhecimento de que haveria interceptação de dados sem autorização de autoridades brasileiras para uso da inteligência americana. Esses fatos implicam violação dos direitos humanos, violação da soberania brasileira e de direitos consagrados em nossa Constituição", frisou o ministro Cardozo. Kerry garantiu que o Brasil receberia as explicações, mas defendeu os trabalhos de inteligência. Segundo ele, a espionagem protege os EUA e o restante do mundo de ameaças. O acordo, até o momento, continua rejeitado.

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