Ativistas pró-Moscou entrincheirados no principal edifício da
administração local de Donetsk, leste da Ucrânia, proclamaram nesta
segunda-feira a criação de uma "república soberana" independente de
Kiev, que, por sua vez, acusa a Rússia de querer "desmembrar" o país.
Diante
desta situação, os Estados Unidos advertiram nesta segunda-feira que
podem adotar novas sanções contra a Rússia e convocaram o presidente
russo, Vladimir Putin, a parar com a desestabilização da Ucrânia.
"Estamos prontos para estabelecer novas sanções contra a economia russa", declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Segundo Carney, existiriam provas de que alguns manifestantes pró-russos teriam sido pagos e não viveriam na Ucrânia.
"Pedimos
ao presidente Putin que ponha fim a seus esforços de desestabilizar a
Ucrânia", acrescentou, advertindo que qualquer incursão de tropas russas
no leste do país será considerada pelos Estados Unidos como uma
perigosa escalada.
Por outro lado, os chefes da
diplomacia russa e americana, Serguei Lavrov e John Kerry, falaram
nesta segunda-feira sobre a realização de uma reunião dentro de dez dias
entre os Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Ucrânia para tentar
resolver a crise neste país.
Durante uma
conversa telefônica, os dois chanceleres "falaram de negociações diretas
em dez dias entre a Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e a UE para tentar
reduzir a tensão", declarou a porta-voz do Departamento de Estado,
Jennifer Psaki.
Interrogada sobre se essa
reunião aconteceria de fato, Psaki respondeu que "se desenrolaria dentro
dos próximos dez dias", mas que as datas e as agendas ainda precisavam
ser definidas
A tensão aumentou repentinamente
no domingo na região leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia,
quando manifestantes tomaram o controle de prédios oficiais -
administrações locais ou de serviços de segurança (SBU) nas cidades de
Kharkiv, Lugansk e Donetsk.
As ações nos
edifícios aconteceram sem violência. As forças de segurança resistiram
por pouco tempo em Donetsk durante a tarde, ante manifestantes com os
rostos cobertos, antes de abandonar o local.
Os
manifestantes substituíram imediatamente a bandeira da Ucrânia, azul e
amarela, pela bandeira da Rússia, branca, azul e vermelha.
Após
negociações, os manifestantes abandonaram a sede do governo de Kharkiv,
mas os ativistas de Donetsk se recusaram a deixar o edifício. Na manhã
desta segunda-feira, os ativistas organizaram uma assembleia durante a
qual proclamaram a "República soberana" de Donetsk.
Ao
mesmo tempo, um oficial ucraniano foi assassinado a tiros no domingo à
noite em um incidente entre militares russos e ucranianos na localidade
de Novofedorovka, na Crimeia, anunciou o ministério da Defesa da
Ucrânia.
"República popular de Donetsk"
Um
porta-voz dos manifestantes compareceu à entrada do edifício para falar
com a imprensa e anunciou a decisão, mas os jornalistas não foram
autorizados a entrar no prédio.
Além disso, um
vídeo publicado no YouTube, apresentado como uma assembleia dos
ativistas dentro do prédio administrativo, mostra um homem proclamando a
independência da região.
"Buscando criar um
estado popular, legítimo e soberano, proclamo a criação do estado
soberano da República Popular de Donetsk", afirma em um megafone.
Segundo a agência Interfax, os manifestantes decidiram organizar um referendo de soberania regional antes de 11 de maio.
O site de notícias local Ostrov afirma que os ativistas pediram para integrar a Federação Russa.
Antes
do anúncio, o governo ucraniano pró-Ocidente, que surgiu após a revolta
que destituiu em 22 de fevereiro o governo pró-Moscou do presidente
Viktor Yanukovytch, denunciou um plano russo para "desmembrar" o país.
"Há
um plano para desestabilizar (o país), um plano para que as forças
estrangeiras atravessem a fronteira e tomem o território do país, algo
que não vamos permitir", disse o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk
durante uma reunião de emergência do governo.
"O roteiro está escrito pela Federação Russa e seu único objetivo é desmembrar a Ucrânia", completou.
Até o momento, as autoridades russas não se pronunciaram sobre as declarações nem sobre a repentina crise no leste da Ucrânia.
Desde
a queda do regime pró-Moscou de Kiev, a tensão persiste entre os dois
países. A crise entre Rússia e Ucrânia teve como consequência a anexação
da república da Crimeia pela Federação Russa, após um referendo não
reconhecido pelo governo ucraniano e os países ocidentais.
Para
tentar apaziguar os ânimos, Kiev enviou o ministro do Interior, Arsen
Avakov, a Kharkiv e o vice-primeiro-ministro responsável pela Segurança,
Vitali Iarema, a Donetsk.
Em Kharkiv, uma
correspondente da AFP constatou que os funcionários ucranianos
trabalhavam normalmente, mas sob proteção policial.
Dezenas
de manifestantes pró-Rússia permaneciam, no entanto, reunidos nas
imediações. Andrii, de 28 anos, disse que "o povo foi as suas casas para
descansar, mas que voltarão".
Gás e laticínios
Em
plena crise política, a Ucrânia luta para sair de uma profunda crise
econômica, cujas perspectivas pioraram depois que Moscou anunciou na
semana passada um aumento de 81% no preço do gás fornecido à Ucrânia.
Kiev
rejeitou a "pressão política" e agitou o fantasma de uma nova "guerra
do gás", que poderia colocar em risco o abastecimento europeu.
A Rússia anunciou nesta segunda-feira a suspensão da importação de parte da produção de laticínios da Ucrânia.
A Bolsa de Moscou operava em baixa e a o rublo, a moeda russa, registrava uma forte desvalorização na comparação com o euro.
Os países ocidentais ameaçam a Rússia com novas sanções econômicas no caso de um ataque à integridade territorial da Ucrânia.
O
presidente tcheco, Milos Zeman, estimou no domingo que, se as tropas
russas entrarem no leste da Ucrânia, a Otan deveria intervir
militarmente.
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