segunda-feira, 25 de junho de 2012

As Marias da Mata Atlântica

O sol não perdoa o Semiárido. Seca a vida que brota do chão e do coração das Marias deste chão. E elas são muitas: Rita, Quitéria, José, Das Dores. Todas trabalhadoras. Acordam às 4 horas da manhã e vão para a roça. Nasceram e cresceram em lugares quase esquecidos, longínquos, mas rodeados por uma riqueza sem preço, a Mata Atlântica. É desta mata, invadida há cinco séculos, que elas tiravam o sustento da família, desmatando. “Não sabíamos que era como ferir a mata. Dependemos de lenha para cozinhar, o gás é caro. A gente cortava o que podia”, conta uma das Marias, a José da Silva, de 42 anos, 12 filhos. Esta Maria, apelidada Lia, é uma das mães do Assentamento Dom Hélder, de 375 hectares, localizado em Murici (AL), escolhidas para receber um ecofogão, utensílio criado pelo projeto Produzir e Conservar, orquestrado pela Monsanto, pela ONG Conservação Internacional (CI), pela Associação para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste (Amane) e pelo Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan). O fogão reduz o uso doméstico de lenha em 60%, evitando o desmatamento de espécies nativas da Reserva Ecológica de Murici. Desde então, a rotina das Marias está diferente nos assentamentos Dom Hélder e na agrovila Che Guevara. Não vão mais à mata cortar árvores, cozinham com galhos que caem no chão. “Antes, eu usava uma carroça de lenha por semana. Hoje, a carroça dá para mais de mês”, diz Lia. “E não respiro mais a fumaça preta, que dava uma tosse danada. Agora, ela sai pela chaminé”, festeja. Segundo o Cepan, uma família de cinco pessoas demanda 500 quilos de lenha por ano para cozinhar nos fogões tradicionais, mas a maioria das famílias tem entre dez e 12 membros. “Os problemas de saúde devido à aspiração da fuligem são graves. Quase todas as crianças têm asma”, diz Rodrigo Severino, diretor do Cepan

“A meta é instalar 10 mil”, diz Severino. O ecofogão é simples, feito de concreto, aço e cerâmica. Pesa 80 quilos. A tubulação de cerâmica dentro do concreto permite que se use menos lenha e a chaminé elimina a fumaça. Cada ecofogão sai por R$ 280, pouco mais que um fogão a gás. “Devido aos problemas de logística, no Semiárido um botijão de gás custa três vezes mais”, conta Fábio Pereira, técnico agropecuário da Amane. Maria Quitéria tem um fogão a gás em casa, mas quase sempre lhe falta dinheiro para o combustível. “Ou compro gás ou remédio”, diz.


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