terça-feira, 27 de novembro de 2012

Familiares doam pele de pessoas mortas para transplante em Pernambuco

Um caso inédito no Norte/Nordeste está prestes a acontecer em Pernambuco. O Estado é o primeiro da região a realizar captação de pele para transplante. Em menos de 48 horas, familiares de dois pacientes com morte encefálica, que estavam em atendimento no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife, autorizaram a doação. Um dos doadores tinha 13 anos, e o outro, 39. Para se ter uma ideia, as duas doações representam cerca de três mil centímetros quadrados do tecido, o suficiente para atender um queimado grave. Todo o material coletado está sendo processado e passando por exames no Banco de Pele do Instituto de Medicina Integrada Professor Fernandes Figueira (Imip). Dentro de 40 dias, a pele poderá ser liberada para transplante.


“Essas duas doações iniciam um novo momento para os transplantes no Estado. O nosso principal problema para doação de pele ainda estava na negativa familiar e no preconceito, pelo medo que as pessoas tinham de deixar seus familiares mutilados e com aspecto diferente para o velório. Mas estamos disseminando as informações e explicando aos familiares que a pele é retirada de locais que não ficam expostos. Acreditamos que com esse trabalho de comunicação, a população começará a ser mais colaborativa”, afirma a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes.

Segundo o cirurgião plástico e responsável técnico pelo Banco de Pele do Imip, Marcelo Borges, o tecido utilizado para transplante envolve a epiderme e parte da derme. Essa pele é retirada em lâminas longas e finas, com dimensões de, no mínimo, 10 cm de comprimento e 3 cm de largura. As áreas de captação no corpo são costa, parte anterior e posterior das coxas, nádegas, entre outros. No caso da morte encefálica, a retirada da pele ocorre após a captação dos outros órgãos. Quando é pós-morte, o processo deve ser feita até 12 horas após o óbito ou 24h, caso o corpo tenha sido refrigerado nas primeiras 6h.
“A pele chega ao Banco dentro de uma solução e, logo em seguida, passa por um processo que compreende três etapas, até ser encaminhada para refrigeração. Ainda é preciso aguardar a liberação da sorologia e microbiologia, que dura cerca de 40 dias. Só depois da análise dos resultados é que a pele pode ser liberada para o transplante”, ressalta o cirurgião plástico Marcelo Borges.
“Por ano, no Brasil, são entre 5 e 10 mil queimados. Por isso, realmente precisamos avançar com as ações para ampliar o número de doadores de pele”, reforça Borges. Segundo o cirurgião, no Banco de Pele do Imip, ainda são feitas pesquisas para buscar alternativas para essa área. Entre elas, está a viabilidade do uso de tecido de outras espécies (rã e tilápia), o cultivo de epitélio (parte superior da pele) do próprio queimado e membrana amniótica, considerada a mais viável. “Estudos estão sendo feitos para que, posteriormente, O Sistema Nacional de Transplantes analise e autorize essa nova realidade”.
A coordenadora ressalta que os dois doadores ainda doaram, juntos, quatro córneas, dois fígados, dois corações, dois rins, osso e pele.
Fonte: JC


Nenhum comentário:

Postar um comentário