sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Força Nacional prepara envio de 350 homens para Santa Catarina


O governo de Santa Catarina confirmou, nesta sexta-feira (15), que tropas da Força Nacional de Segurança Pública estão a postos no Aeroporto de Brasília aguardando sinal verde do governador Raimundo Colombo (PSD) para seguir viagem para o estado. São 350 homens que vão atuar na tentativa de conter a nova onda de violência que já atingiu 30 cidades catarinenses desde o dia 30 de janeiro. Autoridades negociam o envio das tropas na tarde desta sexta-feira (15). Na madrugada desta sexta-feira, o número de ataques chegou a 100.
A assessoria do governo de Santa Catarina confirmou ainda que carros da Força Nacional estão na Base Aérea de Florianópolis, mas não soube informar os motivos da presença militar. O envio dos militares foi autorizado pelo Ministério da Justiça depois de uma reunião entre o governador e o ministro José Eduardo Cardozo na quarta-feira (13).
Pela manhã, passageiros sofreram com a demora na circulação de ônibus na Grande Florianópolis. Apesar de autoridades terem garantido que os ônibus estariam nas ruas a partir das 6h, muitos usuários relataram que os coletivos só começaram a deixar o principal terminal da capital depois das 7h. Durante assembleia nesta quinta-feira, motoristas e cobradores de ônibus haviam decidido que só iriam trabalhar de 7h às 19h a partir desta sexta devido à onda de ataques no estado. Por causa do impasse, as aulas da noite na rede pública estadual estão suspensas nesta sexta. 
No entanto, autoridades do estado e do município garantem que os ônibus vão circular à noite normalmente. Para que isso seja possível, o governo do estado, com apoio da prefeitura de Florianópolis, informou que fará a segurança do transporte coletivo na Região Metropolitana da capital. Segundo o governo, o transporte vai circular até 23h, e não até as 19h, como haviam dito os motoristas e cobradores. Para isso, 80 veículos, sendo 40 cedidos pela prefeitura e 40 pelo estado, com policiais farão a escolta dos ônibus, a partir de das 20h. Pela manhã, no Centro da capital catarinense, uma viatura da Polícia Militar, com oito policiais, já fazia a escolta dos passageiros de ônibus.
Os moradores da Grande Florianópolis estão indignados por causa dos transtornos no transporte público. Muitas pessoas chegaram com atraso no trabalho, já que os ônibus só começaram a sair do terminal para os bairros somente às 7h20m, segundo os próprios passageiros. A balconista Gilmara Bonin chegou atrasada em 10 minutos mesmo o patrão tendo aberto a loja 30 minutos mais tarde. Ela disse que foi de ponto em ponto tentando entrar em um coletivo.
"Muitos passavam lotados e somente no terceiro ponto embarquei, mesmo cheio, mas cheguei atrasada. E olha que saí de casa às 6h45m para pegar o primeiro que passasse às 7h", disse.
O comerciante Abdul Najmddine, apesar de abrir mais tarde, disse que, além de Gilmara, outras três funcionárias chegaram atrasadas. Ele reclama que a onda de ataque e a restrição no transporte leva à queda no movimento na loja, que sofreu redução de mais de 30%. "Desde que começaram os ataques caiu o movimento. A população está com medo de vir ao Centro e sofrer um atentado ou ficar sem ônibus para voltar. Tem solução para essa onda de terror, não querem fazer", reclama o comerciante.
No açougue do mercado público, o proprietário Aurino Manoel dos Santos foi buscar seus sete funcionários em casa, porque, segundo a filha, que é caixa, Cristiane dos Santos, o estabelecimento entrega carnes para mercados, restaurantes, lanchonetes e deve ser feito na primeira hora.
"Ontem (14) já fechamos meia hora antes para que os funcionários não chegassem tão tarde em casa, por causa dos ônibus, e hoje vamos também fechar mais cedo, porque os engarrafamentos estão imensos. Pelo menos metade da clientela sumiu, com medo dos atentados. É sempre a população que sofre", lamenta.
Caixa de um estacionamento público no centro da cidade, Carlos Amarante confirmou o aumento de 20% de veículos no local. Quem decidiu ir ao trabalho de carro parou nas longas filas de engarrafamentos.
Na peixaria do Chico, no Mercado Público, os seis balconistas usaram transporte particular fretado pelo proprietário. Somente Gilberto Silveira chegou atrasado. Morador da praia do Campeche, deveria pegar o ônibus às 6h20m, mas só embarcou às 7h40m. "Não tinha lugar nos ônibus para embarcar. E vou sair às 17h para não ficar sem transporte", disse.
A Secretaria estadual de Educação informou, em nota, que a decisão de cancelar as aulas no período noturno foi tomada por causa dos problemas no transporte urbano. A suspensão das aulas foi decidida em reunião realizada nesta quinta-feira entre a Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), a secretária-adjunta de Educação Elza Marina Moretto, a diretora de Educação Básica e Profissional, Scheilla Soares Marins e o secretário de Educação Renato Hinning. Segundo a secretaria, questões específicas de cada unidade devem ser tratadas com as gerências regionais de educação em conjunto com as escolas enquanto perdurar o impasse do transporte.
Apesar do anúncio dos profissionais de transporte, a prefeitura de Florianópolis e o governo de Santa Catarina determinaram que as empresas de ônibus garantam o serviço das 6h às 23h em toda a Grande Florianópolis. Com medo da violência, motoristas e cobradores prometeram trabalhar somente entre 7h e 19h. Em nota, o governo de Santa Catarina disse que a determinação é que as empresas cumpram os contratos, o que será exigido pelo governo estadual e pelo município, e que, para isso, o estado vai oferecer a segurança necessária aos motoristas, cobradores e usuários.
A onda de violência em Santa Catarina chegou ao 16º dia nesta sexta-feira. De acordo com a Polícia Militar, mais dois atentados foram registrados no estado, elevando para 100 o número de ocorrências. O primeiro desta noite aconteceu por volta da 1h15m, em Laguna. Bandidos lançaram um coquetel molotov em um guincho de uma empresa credenciada pelo Detran, mas o artefato não chegou a explodir.
Em Içara, no Sul catarinense, às 4h30m, dois suspeitos renderam um homem que esperava dentro do carro a saída da esposa do trabalho. Segundo a PM, um homem estava armado e outro carregava um mochila com um galão de gasolina. Os suspeitos atearam fogo no carro, que ficou totalmente destruído. O condutor foi levado em estado de choque ao hospital. A Polícia Civil foi acionada, mas até as 7h30m, nenhum suspeito havia sido preso.
Antes de o governo do estado de Santa Catarina confirmar a chegada das tropas nesta sexta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou, na quinta, que o governo federal e de Santa Catarina estão trabalhando em um programa de segurança "conjunto" para o estado. Cardozo, que se reuniu com o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, na quarta, não confirmou o envio de tropas da Força Nacional de Segurança Pública ou da transferência de presos para combater a onda de violência na região.
"Em segurança pública eu só informo o que foi e presto contas. Mas o que será eu não posso dizer porque senão atrapalha imensamente o programa. O que eu posso dizer a vocês é que o governo federal colocou à disposição do governo de Santa Catarina tudo aquilo que nós dispomos para que possamos juntos enfrentar a violência no estado", declarou em entrevista coletiva sobre o balanço da fiscalização nas estradas durante o carnaval.
O ministro voltou a dizer que o governo estadual terá "total liberdade para solicitar tropas", que serão enviadas se solicitadas ao Executivo.

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