O destino construído com as próprias
mãos. Na trajetória de vida do índio Josinaldo da Silva, 35 anos, essa
obra não para nunca. Pernambucano, de família pobre, Josinaldo mal teve
tempo de ficar conhecido como o primeiro indígena a concluir o curso de
medicina na Universidade de Brasília (UnB) e já começa, sexta-feira, a
residência médica em uma unidade pública da capital federal pelo
Programa Saúde da Família. Serão mais dois anos antes de retornar à
Aldeia Munlungu (onde nasceu e cresceu), uma das 58 aldeias que integram
a reserva dos índios Aticum, cuja sede se situa na Serra do Umã, em
Carnaubeira da Penha, cidade do Sertão do São Francisco.
A colação de grau da turma de Josinaldo
foi marcada por um toque especial. Ao ter o nome chamado no auditório do
quartel-general do Exército, no dia 1º de fevereiro, o índio recebeu o
diploma das mãos de um pajé: Álvaro Tucano, do povo dos tucanos, natural
do Estado do Amazonas, Região Norte do País. O pajé substituiu a beca
por um cocar de penas de gavião, tradicional adorno indígena. “Foram
muitos aplausos. Foi muito emocionante, muito gratificante”, conta
Josinaldo. A cerimônia marcou o fim de um ciclo de sete anos na vida de
um rapaz que desafiou prognósticos e superou preconceitos.
EMOÇÃO - A mãe de Josinaldo, a
aposentada Luzia Silva, 68 anos, relembra um telefonema dado pelo filho,
logo antes da formatura. “Ele me agradeceu por tê-lo botado no mundo.
Menino, eu que agradeço”, brinca Luzia. Ela esteve presente na colação,
junto a vários índios aticuns, convidados por Josinaldo. “Chorei muito,
ri muito. Esse menino trabalhava na roça aos 6 anos de idade. Sempre
quis me ajudar a sustentar a casa. Eu agradeço a Deus pela inteligência
do meu filho. Josinaldo agora é doutor”, orgulha-se.
Pai de um menino de 7 anos, Isaac
Jhonatan, que mora com a mãe em Carnaubeira da Penha, e que ele visita a
cada seis meses, Josinaldo diz que o futuro está na Reserva Aticum, ao
lado do seu povo. O cacique Clóvis Manuel da Silva, 31, amigo de
infância do médico, diz não ter dúvidas de que ele “ainda fará muito
ainda pelos aticuns”. “Ele conhece nossa pobreza, sofreu na pele o que
sofremos todos os dias. Hoje, estamos com dificuldades em todas as
plantações: de milho, feijão, fava, mandioca, mamona. Este ano só caiu
um pingadinho de chuva.”
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