segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Romance frutífero e fatal

Há dois tipos de curiosidade por parte do espectador a cerca do filme “Flores Raras” (Bra., 2013), de Bruno Barreto, que entrou na sexta (16) em cartaz. Uma diz respeito ao acesso a mais informações sobre a figura pouco conhecida que foi Lota de Macedo Soares (1910-1967) – interpretada por Glória Pires. E a outra diz respeito a ver como se sai a atriz global vivendo um romance homossexual no Brasil dos anos 1950/1960.

Essa mesma última curiosidade também moveu Pires a aceitar a empreitada de interpretar essa figura forte e polêmica que foi Lote; sendo respeitada, inclusive, por Carlos Lacerda, o temido governador da Guanabara de então, de quem ela era amiga.

Adaptado do romance “Flores Rara e Banalíssimas”, de Carmen Lúcia de Oliveira, o filme introduz ainda o período em que a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (a precisa Miranda Otto) veio ao Brasil para descansar. Ela conhece Lote e se apaixonada pela força da arquiteta brasileira que idealizou o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.

“Flores Raras”, o filme, deixa claro como o relacionamento conturbado e amoroso das duas foi fundamental para que ambas mulheres crescessem como criadores sensíveis a frente de seu tempo. O enredo reforça que o amor entre Lote e Bishop, vivido num cenário deslumbrante em Petrópolis, foi também determinante para o nascimento e a qualidade do livro “Norte e Sul”, pelo qual ela ganhou o prêmio Pulitzer de literatura.

Com esmero na direção de arte, aspecto delicado no caso de uma produção brasileira – esta custou cerca de R$ 13 milhões -, a obra acerta nos aspectos que nos transferem para o universo estético e social do Brasil de 60 anos atrás.

Curioso observar como Bruno Barreto, que escreveu o roteiro aqui com Matthew Chapman (marido da atriz Denise Dumont), transfere seu olhar de quem morou 20 anos nos Estados Unidos para os personagens gringos desenvolvidos em seus trabalhos. Foi assim também em “O que É Isso, Companheiro?” (1997) e “Bossa Nova” (2000).

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