Estou arrependida e quero ficar com a minha filha”. Com a voz
embargada pela emoção, Cilene Santos do Carmo, de 35 anos, disse se
arrepender de ter abandonado a recém-nascida, na área de serviço do
apartamento onde trabalhava no edifício Acrópole, no bairro das Graças,
Zona Norte do Recife. Ontem, a reportagem da Folha de Pernambuco
entrevistou, com exclusividade, a empregada doméstica. Na tarde do
último sábado, quando ela já se aproximava para o final do expediente,
decidiu usar o banheiro antes de ir para casa. Para sua surpresa, sentiu
que o bebê estava nascendo e resolveu realizar o próprio parto sozinha.
“Saiu muito sangue. Então limpei o banheiro e deixei minha filha dentro
de uma caixa, na área de serviço”, descreveu Cilene. Ela explica que no
começo não queria ficar com a criança, mas também não tinha intenção de
abandoná-la no apartamento onde trabalhava. “Eu não sei nem explicar o
que aconteceu. Eu teria o bebê em uma maternidade e colocaria para
doação”, conta a mãe, que não havia comunicado a ninguém sobre a
gravidez. Durante os nove meses escondeu a situação dos patrões e da
família.
Cilene garantiu que deseja cuidar da menina, a quem chamou de Keila
Vitória. Ela tem outro filho, de 11 anos, que vive com ela, no bairro de
Beberibe, na Zona Norte da Capital. “O ser humano é passível de erro. O
nosso objetivo é garantir o retorno da criança para a família”, explica
o conselheiro tutelar Fernando Dias, responsável pelo caso. “Nós vamos
acompanhar todo o desenrolar junto ao poder judiciário que pode
determinar um acolhimento institucional para fazer um retorno da criança
para a família com mais segurança e, assim, não permitir que ela possa
ser vítima mais uma vez da genitora”, completa.
De acordo com Fernando Dias, a recém-nascida passa bem e deve ter alta
do Imip nesta sexta-feira. Ela deve ser levada para um abrigo até o
desfecho desta história. “Eu particularmente não identifico que a mãe
vai colocar a criança em risco”, afirma o conselheiro. Atualmente,
Cilene ainda não tem autorização para ficar sozinha com a filha e
lamenta o fato. “Eu não sou ruim. Queria que ela tivesse um lar, alguém
que cuidasse melhor do que eu”, admitiu. A doméstica está internada e
sem previsão de alta por apresentar problemas de pressão. Ela responde
em liberdade a um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), por
abandono de incapaz. Se condenada, a pena pode ser de seis meses a dois
anos de detenção.
PATERNIDADE - O pai da recém-nascida, mora atualmente
em Santa Catarina e não sabendo da gravidez de Cilene. O Conselho
Tutelar tentou entrar em contato com ele para descobrir se havia o
desejo de ficar com a menina, porém não conseguiu encontrá-lo. Cilene
não pretende contar a ele a situação e deseja voltar a trabalhar logo
após a licença maternidade chegar ao fim.
Entrevista/Cilene Santos - Empregada Doméstica
Após cinco dias do nascimento, Cilene Santos está internada porque sofre
de pressão alta. Ela prefere que o pai do bebê não saiba do nascimento
dele. Ela irá criar a menina sozinha.
O que fez você mudar de ideia em relação à criança?
Eu quero ficar porque sou a mãe dela e me arrependi. Não tem uma explicação, eu quero porque é minha filha.
Seu outro filho já sabe o que aconteceu?
Ele não sabe dessa situação, mas sabe que ganhou uma irmãzinha. Eu não
deixei ele assistir televisão para não tumultuar a cabeça dele. Sou eu
quem vai contar para ele.
Por que você escolheu o nome Keila Vitória?
Eu sempre quis o nome Keila. Vitória porque ela é uma vitoriosa. Que passou por estas coisas todas e está aí.
Você não quer que o pai saiba do nascimento da filha?
Ele não tem muita iniciativa e não vale a pena ter um contato para sempre.
Fonte: Folha PE
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