quinta-feira, 29 de março de 2012

O HUMOR BRASILEIRO ESTÁ MAIS SEM GRAÇA

  Dias de grandes perdas para o Brasil.
Na mesma semana partiram Chico Anysio e Millôr Fernandes. Certamente, depois desses falecimentos, o humor brasileiro ficará muito menos engraçado…
Millôr era uma das mais sagazes inteligências do país. Além de uma vasta obra, Millôr deixa para o imaginário popular brasileiro frases inesquecíveis como por exemplo:
“Por mais violento que seja o argumento contrário, por mais bem formulado, eu tenho sempre uma resposta que fecha a boca de qualquer um: «Vocês têm toda a razão».”
O mínimo que poderíamos fazer neste momento é prestar nossa humilde e singela homenagem a este grande brasileiro. Reproduzimos em nosso site esta excelente entrevista que Renato Rovai, editor da Revista Fórum, fez com Millôr Fernandes.
"O mundo está muito melhor"
Quem diria, Millôr Fernandes, o crítico mais crítico do país, faz 80 anos garantindo que a vida de hoje em dia é muito melhor que a de outros tempos
Por Renato Rovai
“E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias que só me saíam gêmeas, as palavras – reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada. Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui.”
Assim Millôr se apresentou aos leitores quando foi fazer uma coluna na revista Veja, em 1968. Aos 80 anos, completados no último 16 de agosto, Millôr é um dos maiores intelectuais vivos do Brasil. Já fez dezenas de peças de teatro, traduções e lançou e colaborou com outras tantas dezenas de veículos de imprensa. Suas colunas no Pasquim da primeira fase ainda são lembradas em muitas mesas de bar por quem tem mais de 40. Suas frases diretas e perspicazes já encantam muitos garotos e garotas que surfam pela internet e passam pelo Universo On-Line (UOL), onde colabora. Millôr não gosta de dar entrevistas. Por isso, leitor, aproveite essa deixa.
Pessimismo ou otimismo
Não sou otimista, mas quando digo aos meus amigos que estamos vivendo no melhor dos tempos, as pessoas não percebem. Estamos vivendo num tempo de transição, mas o mundo nunca foi tão bom. É curioso dizer isso, mas é verdade. Até 1888 era possível comprar um preto na esquina e carimbá-lo com o seu nome. Trouxeram de 10 a 15 milhões de negros da África e era perfeitamente normal. Isso mudou. Mas, como disse, não sou otimista. A palavra poderia ser, sei lá, realista. Mas não realista no sentido negativo, porque quando se fala realista, em geral se quer dizer, “tá tudo fodido e eu estou vendo a realidade”. Não é isso. Estou vendo uma realidade em que hoje, no mundo inteiro, tem muito mais gente usufruindo os bens da vida do que jamais houve. Tem um bilhão de pessoas passando fome, mas são seis bilhões no planeta. Tem uma classe média hoje no mundo que, se você for muito pessimista, dá 20% da população. Você tem dois bilhões, ou um bilhão e meio de pessoas vivendo muito bem.
Mais perto do socialismo
Quando começam a informatizar tudo, as pessoas vão perdendo o emprego. Isso me parece evidente. Mas quando você desemprega milhões de pessoas, na minha visão, ao mesmo tempo está criando o socialismo. Ou você arranja uma maneira de distribuir melhor os bens da terra, ou esta porra explode. Nesse momento está explodindo, mas ou vai explodir de uma vez ou só estamos num período de transição que pode durar 10, 20, 30 anos. Mas é um período de transição.
Conflitos futuros
Isso eu acho absolutamente imprevisível. É impossível prever o gesto de um maluco. Não se pode saber o que aquele doido da Coréia do Norte pode fazer e nem aqueles filhos da puta dos EUA, não é verdade? A Índia está lá, o Paquistão está lá. É imprevisível. Também não é possível prever, se a coisa pegar em um âmbito mais gigantesco, isso não vá acabar com o mundo ou com a Terra. Ou chegar à barbárie total de novo. De qualquer maneira eu acho muito interessante o mundo.
Qualidade de vida
Sempre fiz esporte, inclusive frescobol. Aliás, fomos nós os cariocas que inventamos esse esporte. Hoje você tem o skate, que de coisa de vagabundo virou um esporte formidável, maravilhoso. Eu também vi nascer o surfe na minha porta. Aliás, hoje já estamos na terceira geração do surfe. Isso tudo criou um homem novo. Da geração de hoje para a minha geração, deve ter tido um aumento de estatura de 10 centímetros. O garoto de 17, 18 anos, bem alimentado, não tem mais cárie. A expectativa de vida no mundo, que era de 40 anos no início do século XX, hoje é 80. E eu digo isso porque consulto estatística, gosto muito de estatística. Todo ano leio o Year Book da Enciclopédia Britânica. Lá as estatísticas não são ideológicas. Além disso, nesse período você praticamente eliminou a dor e criou hábitos de higiene que atingem todo mundo. Eu me lembro quando fui pra Europa pela primeira vez, em 1952, hotéis bons só tinham banheiro no corredor. Fui nos dois melhores hotéis e você tinha um banheiro só para um monte de quartos.
CONTINUE LENDO ESTA ENTREVISTA EM NOSSO SITE CLICANDO AQUI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário